domingo, 12 de julho de 2020

A Royal Mile, O Coração De Edimburgo!

Gente, vocês já sabem que este é um dos meus lugares favoritos de toda Edimburgo, né? Então, preparem-se porque o texto de hoje vai ser longo, são tantas histórias e lugares incríveis pra compartilhar que fica difícil poupar nas palavras! Pra começar, quero dizer que foram incontáveis as vezes que passeei pela Royal Mile [Milha Real, em português] durante o período em que morei na capital escocesa, e também depois, e confesso que lá no início eu não fazia a menor ideia da riqueza e do valor histórico e cultural daquele pedacinho de mundo. Fui descobrindo aos poucos explorando, perguntando, interagindo, lendo, pesquisando, observando, ouvindo, fotografando, registrando e absorvendo tudo que era possível – cada nova visita era sempre um universo de descobertas!

Placa de identificação do trecho inicial da Royal Mile, o Castlehill.
A Royal Mile é o coração de Edimburgo, o centro histórico da cidade, o trecho mais famoso da capital escocesa. Com 1.814 metros de comprimento – o que equivale a uma milha escocesa essa via conecta o Castelo de Edimburgo, a oeste, com o Palácio de Holyroodhouse, a leste. Lá estão localizadas as principais atrações da cidade. Também é ali que a verdadeira história acontece – nos becos, ruelas, pátios e casas dessa região antiga [a Old Town, como é conhecida em inglês] – uma região de aspecto medieval, mas cheia de vida, de movimentação, de coisas pra ver, ouvir, fazer e se apaixonar.

Royal Mile - Castlehill 
Nesta imagem, à esquerda, o prédio da Tartan Weaving Mill & Exhibition, à direita o prédio da Scotch Whisky Experience e lá no fundo, a Tolbooth Kirk.
O que nem todos sabem, é que a Royal Mile é na verdade composta de quatro ruas conectadas: Castlehill – a parte mais próxima ao castelo e a mais antiga de Edimburgo, uma vez que deu origem à cidade; Lawnmarket – um trecho repleto de lojas de souvenirs; High Street – a parte mais conhecida, pois é onde está a Catedral de St. Giles, além de pubs e restaurantes que são frequentados pelos locais; e Canongate – um burgo independente até meados de 1852, de onde segue um pequeno trecho que passa pela Praça do Parlamento e vai até o Palácio de Holyroodhouse.

O famoso Hop-On Hop-Off Bus [ônibus turístico que permite você subir e descer quantas vezes quiser, contanto que tenha um ticket ou bilhete de passagem].
Ao longo de todo o trajeto há uma infinidade de atrações que realmente valem uma visita, cada uma com características únicas e bem diferenciadas que atraem e encantam pelos mais diversos motivos. Além disso, há também muitas opções de tours a pé pelas ruas, com temáticas das mais variadas, desde histórias de fantasmas até passeios literários. Não tive a oportunidade ou o interesse em visitar ou participar de tudo, mas me diverti muito por ali... e professora e amante de literatura como sou, fica fácil adivinhar algumas das minhas escolhas, não é mesmo?! Prontos pra me acompanhar num passeio pelos meus lugares favoritos da Royal Mile?

Na minha próxima visita à capital escocesa eu juro que vou num desses tours fantasmagóricos!
Nosso passeio vai começar na saída do castelo, descendo a ladeira até chegarmos no palácio da rainha. E a primeira parada será na Tartan Weaving Mill & Exhibition, construída em um edifício histórico da cidade que antes abrigava o reservatório de água de Castle Hill, o reservatório principal da Royal Mile – e coladinha no Castelo de Edimburgo. Com 5 andares bem amplos, o lugar é uma mistura de fábrica, com museu, loja de souvenirs e loja de artesanato. Lá é possível vermos como é o processo de fabricação das famosas peças típicas escocesas e em seguida experimentar, fotografar ou comprar alguma um passeio imperdível para conhecer um pouco mais sobre as tradições e cultura escocesas.

O prédio que abriga a Tartan Weaving Mill & Exhibition
Quem me levou neste passeio foi a minha amiga peruana, Mercedes, que desde então mora em Edimburgo e, mais recentemente, casou com um escocês. Foi uma tarde gelada, mas bem especial, pois pude conhecer e entender um pouco mais sobre kilts e tartans – para aqueles que não sabem, os kilts são os tradicionais trajes escoceses que se assemelham a uma saia, e os tartans são as diferentes padronagens de xadrez das vestimentas, cada uma representando um diferente clã escocês. É uma visita rápida que eu super recomendo, e o melhor, a entrada é livre.

Mantas e cachecóis nas mais variadas cores e padronagens de xadrez!
Um pouco das tradições e cultura escocesas!
Pra quem acompanha a família real britânica, poderá observar que eles são bem adeptos dos kilts escoceses, inclusive há dois tartans oficiais da realeza, o Stewart e o Balmoral  enquanto o Stewart é universal e pode ser usado por todo aquele que quiser, o Balmoral pode ser usado apenas por membros da família real. E a boa notícia pra quem, como eu, curte a tradição e não é de linhagem escocesa, é que, além dos padrões universais, agora também podemos criar o nosso próprio tartan! Legal, né? E aí, qual padrão vai ser?

O maquinário de tecelagem usado para confeccionar os tartans.
Os escoceses, porém, já não vestem mais o kilt no seu dia-a-dia. Com exceção dos artistas de rua que vemos tocando a gaita de foles e posando para fotos com turistas em diferentes pontos da cidade, ou daquele turista que ama entrar no personagem, a vestimenta é reservada para os cultos de domingo ou alguma celebração especial, como casamentos, eventos sociais ou festividades locais, entre outros. O casamento dos meus amigos Mercedes e David, por exemplo, foi seguindo as tradições escocesas, e se eles me permitirem, talvez eu compartilhe algumas imagens dos trajes usados durante a cerimônia aqui com vocês. Enquanto isso, fiquem com os registros dos meus passeios!

Traje feminino no Royal Stewart Tartan, o xadrez do clã Stewart, a família real britânica.
E falando em registros, em que parte do mundo, além da Escócia, vocês acham que é possível ver uma belíssima igreja transformada em um centro de artes e eventos? Estamos falando da Tolbooth Kirk [Igreja Tolbooth], uma igreja em estilo gótico, a 2 minutinhos do Castelo de Edimburgo, construída nos anos de 1842 e 1844, com uma agulha octogonal de 74 metros, o que faz dela a construção mais alta da cidade. Eu fiquei ali meio pasmada olhando aquela construção, foi difícil acreditar que aquela maravilha arquitetônica não era mais um templo religioso. Mas aqui entre nós, o que mais tem na capital escocesa são igrejas, são muitas, muitas, muitas!

A antiga Tolbooth Kirk, que hoje abriga um centro de artes e eventos, o The Hub.
Mas pra não desapontar os apaixonados por templos religiosas, a nossa próxima atração é a Catedral de St Giles [Catedral de São Egídio], dedicada a São Egídio, padroeiro de Edimburgo. Um dos locais religiosos mais importantes da cidade há aproximadamente 900 anos! Segundo algumas pesquisas que fiz, a construção atual data do final do século XIV, embora tenha sido amplamente restaurada no século XIX, quando vitrais coloridos começaram a ser colocados, ilustrando histórias bíblicas. E pra mim, um dos locais mais bonitos da catedral é a Thistle Chapel [Capela do Cardo], a capela mais antiga, mais nobre e a principal da Ordem de Cavalaria da Escócia. E se vocês, como eu, costumam passear durante o inverno, venham preparados para o frio no interior do prédio – quase congelei durante uma missa que assisti!

St. Giles Cathedral [a Catedral de São Egídio]
Os vitrais da Thistle Chapel [a Capela do Cardo]
Ao passear pela Royal Mile, também é interessante reparar nos monumentos e marcações ao longo do trajeto – podemos ver desde estátuas de grandes nomes da Escócia, até marcações nas calçadas e ruas. Uma das minhas marcações favoritas é o Heart of Midlothian, um mosaico em formato de coração feito de granito colorido que fica ao lado da Catedral de St. Giles – ele marca a posição do antigo centro administrativo, bem como, de uma prisão e de um dos vários locais de execução pública da cidade no século XV. Alguns dizem que os moradores locais costumam cuspir no coração como sinal de desdém pela antiga prisão que ali ficava, já outros falam que é para dar sorte. Desdém ou sorte, acho que vale à pena conferir!
 
The Heart of Midlothian Mosaic [o mosaico Coração de Midlothian]
Saindo um pouco da via principal está outra das minhas atrações favoritas, o Writers’ Museum [Museu dos Escritores] – um espaço dedicado à vida e obra dos três escritores mais importantes da história da Escócia: Sir Walter Scott, Robert Burns e Robert Louis Stevenson – alocado na Lady Stair House, uma construção histórica de 1622. Fiquei encantada já na entrada para o museu – no pátio que se chama Makars’ Court, havia várias placas e poemas escritos no chão de pedra, uma homenagem muito bonita para os escritores – lembro que fiquei ali por horas me deliciando com cada palavra, cada verso e cada rima... Além disso, eu conhecia algumas das obras deles, fiquei emocionada com a oportunidade de estar ali, foi uma experiência linda!

O prédio histórico Lady Stair House, que abriga o Writers' Museum [Museu dos Escritores].
A placa que indica a entrada para o museu.
Outro espaço que amei visitar foi o Museum of Childhood [Museu da Infância], um lugar excelente para conhecer a infância de diferentes gerações – o acervo é formado por brinquedos que vem desde o século XVIII até os dias de hoje – além de ser o primeiro museu do mundo dedicado à história da infância. São 21 salas com mais de dois mil itens em exposição, que vão contando a história da infância pelo mundo afora. A coleção conta com ursinhos de pelúcia, bonecas, livros, jogos, carrinhos, marionetes e muitos outros. É uma belíssima viagem ao passado!

A fachada e porta de acesso ao Museum of Childhood [o Museu da Infância]
Acervo do museu.
Acervo do Museu.
Também me diverti muito visitando Canongate – uma seção da milha real que até o ano de 1856 foi um burgo independente. No cruzamento da Royal Mile com a Jeffrey Street [Rua Jeffrey] podemos ver alguns ladrilhos metálicos que indicam onde ficava a porta da cidade, além do muro que separava Edimburgo e Canongate. Em uma das esquinas está o pub The World’s End, chamado assim porque, para os moradores da época, esse ponto significava o fim do mundo e quem saísse por aquela porta provavelmente nunca mais voltaria para Edimburgo. Quando cai a noite, esse trecho fica bastante deserto, por isso o mais indicado é visitá-lo durante o dia.

Canongate Kirk [a Igreja de Canongate]
The World's End Pub [o Pub do Fim do Mundo]
Tudo o que eu descrevi até aqui é apaixonante, mas o que mais me fascina ao longo de toda a Royal Mile, com certeza, são as dezenas de becos, vielas e entradinhas que os escoceses chamam de courts [pátios], closes [becos] e alleyways [vielas, passagens] dizem que estes becos e vielas se assemelham a uma espinha de peixe, e que cada um tem uma ou várias histórias pra contar – e se olharmos de perto, cada um deles tem um nome afixado, normalmente associado a uma pessoa próspera ou a uma determinada profissão relacionada àquela passagem específica. Vale muito à pena entrar em alguns deles para sentir o espírito medieval da cidade, é, literalmente, viajar no tempo.
 
Mary King's Close [o Beco de Maria King]
Um dos becos mais famosos é o Mary King’s Close [Beco de Maria King], e mais recentemente, um beco que ganhou notoriedade internacional foi o Bakehouse Close [Beco da Padaria] – os fãs de Outlander que o digam – pois ali foram gravadas cenas da gráfica de Jamie, personagem principal da série, que naquela fase escolheu ser chamado de Alexander Malcolm. Quando assisti os episódios eu tinha a impressão de reconhecer aquele lugar, então decidi vasculhar minhas fotos antigas, e para minha felicidade, encontrei uma daquele beco! Só não estou nela, mas isso não importa, a lembrança daquele lugar está bem viva na minha memória.
 
The Bakehouse Close [o Beco da Padaria]
Lembro que era domingo, Mercedes e eu nos encontramos pra almoçar e depois saímos pra explorar alguns pontos da parte antiga da cidade. Já estava anoitecendo quando passamos pelo beco, o que tornou a experiência ainda mais emocionante e inesquecível. O Bakehouse Close fica em Canongate e está localizado próximo ao Museu de Edimburgo – onde estão o prato e a coleira do Bobby, o cachorro mais famoso de toda a Escócia e objeto do meu próximo relato! Mas voltando, o mais surpreendente é que, assim como em Outlander, o prédio também já abrigou um bordel na vida real, o Cock and Trumpet. Entrando no close, o bordel fica à esquerda.

The Museum of Edinburgh [o Museu de Edinburgo]
E a última parada do nosso passeio é para ver o Holyrood Palace [Palácio de Holyrood] e a Queen´s Gallery [Galeria da Rainha]. O palácio é a residência oficial da monarquia britânica na Escócia desde o século XVI, e a Rainha Elizabeth II costuma ficar ali entre o final de junho e o começo de julho. A visitação é permitida quando a Rainha não está na cidade. O tour guiado passa por algumas salas e dependências, além de apartamentos de estado, quartos históricos da Rainha Mary da Escócia, ruínas da antiga abadia agostiniana, uma parte dos jardins do palácio e a galeria de artes adjacente, a Queen’s Gallery.

O Palácio de Holyrood, residência oficial da Rainha.
The Queen's Gallery [a Galeria da Rainha]
E aí, pessoal, gostaram? Cansaram muito? E olha que os lugares que descrevi são apenas uma pequena amostra de tudo que há pra ver na Royal Mile! Algumas outras atrações que, na minha opinião, valem muito a pena visitar são: a Câmara Obscura [the Camera Obscura]; a Experiência do Uísque Escocês [The Scotch Whisky Experience]; o Beco de Mary King [Real Mary Kings Close]; o primeiro centro moderno construído para fins de narrativa ao vivo do mundo [The Storytelling Centre]; o Museu de Edimburgo [the Museum of Edinburgh]; o Museu de História das Pessoas [the People’s Story Museum]; o Cemitério de Canongate [the Canongate Kirkyard], e o museu que pretende revelar os segredos da criação da terra e dos ecossistemas, o Dynamic Earth [Our Dynamic Earth].

Thank you! [Obrigada!]
Cada palavra, cada frase e cada referência, bem como as imagens, foram escolhidas com muito carinho pra tornar este relato o mais próximo possível daquilo que vi e vivenciei – espero que tenham gostado!

Até breve, pessoal!

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