Gente,
vocês já sabem que este é um dos meus lugares favoritos de toda Edimburgo, né?
Então, preparem-se porque o texto de hoje vai ser longo, são tantas histórias e
lugares incríveis pra compartilhar que fica difícil poupar nas palavras! Pra
começar, quero dizer que foram incontáveis as vezes que passeei pela Royal Mile [Milha Real, em português] durante
o período em que morei na capital escocesa, e também depois, e confesso que lá
no início eu não fazia a menor ideia da riqueza e do valor histórico e cultural
daquele pedacinho de mundo. Fui descobrindo aos poucos – explorando, perguntando, interagindo, lendo, pesquisando,
observando, ouvindo, fotografando, registrando e absorvendo tudo que era
possível – cada nova visita era sempre um universo de descobertas!
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Placa de identificação do trecho inicial da Royal Mile, o Castlehill. |
A Royal Mile é o coração de
Edimburgo, o centro histórico da cidade, o trecho mais famoso da capital
escocesa. Com 1.814 metros de comprimento – o que equivale a
uma milha escocesa – essa
via conecta o Castelo de Edimburgo, a oeste,
com o Palácio de Holyroodhouse, a leste. Lá estão localizadas as principais
atrações da cidade. Também é ali que a verdadeira história acontece – nos becos, ruelas, pátios e
casas dessa região antiga [a Old Town,
como é conhecida em inglês] – uma região de aspecto medieval, mas cheia de
vida, de movimentação, de coisas pra ver, ouvir, fazer e se apaixonar.
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Royal Mile - Castlehill
Nesta imagem, à esquerda, o prédio da Tartan Weaving Mill & Exhibition, à direita o prédio da Scotch Whisky Experience e lá no fundo, a Tolbooth Kirk. |
O que nem todos sabem, é que a Royal Mile é na verdade composta de quatro ruas conectadas: Castlehill – a parte mais próxima ao
castelo e a mais antiga de Edimburgo, uma vez que deu origem à cidade; Lawnmarket – um trecho repleto de lojas
de souvenirs; High Street – a parte mais conhecida, pois é onde está a Catedral
de St. Giles, além de pubs e restaurantes
que são frequentados pelos locais; e Canongate
– um burgo independente até meados de 1852, de onde segue um pequeno trecho
que passa pela Praça do Parlamento e vai até o Palácio de Holyroodhouse.
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O famoso Hop-On Hop-Off Bus [ônibus turístico que permite você subir e descer quantas vezes quiser, contanto que tenha um ticket ou bilhete de passagem]. |
Ao longo de todo o trajeto há
uma infinidade de atrações que realmente valem uma visita, cada uma com
características únicas e bem diferenciadas que atraem e encantam pelos mais
diversos motivos. Além disso, há também muitas opções de tours a pé pelas ruas, com temáticas das mais variadas, desde histórias de
fantasmas até passeios literários.
Não tive a oportunidade ou o interesse em visitar ou participar de tudo, mas me
diverti muito por ali... e professora e amante de literatura como sou, fica
fácil adivinhar algumas das minhas escolhas, não é mesmo?! Prontos pra me acompanhar num passeio pelos meus lugares favoritos da Royal Mile?
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Na minha próxima visita à capital escocesa eu juro que vou num desses tours fantasmagóricos! |
Nosso passeio vai começar na
saída do castelo, descendo a ladeira até chegarmos no palácio da rainha. E a
primeira parada será na Tartan Weaving
Mill & Exhibition, construída em um edifício histórico da cidade – que antes abrigava o reservatório de
água de Castle Hill, o reservatório principal da Royal Mile – e coladinha no Castelo de Edimburgo.
Com 5 andares bem amplos, o lugar é uma mistura de fábrica, com museu, loja de souvenirs e loja de artesanato. Lá é
possível vermos como é o processo de fabricação das famosas peças típicas
escocesas e em seguida experimentar, fotografar ou comprar alguma – um passeio imperdível para conhecer
um pouco mais sobre as tradições e cultura escocesas.
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O prédio que abriga a Tartan Weaving Mill & Exhibition |
Quem me levou neste passeio
foi a minha amiga peruana, Mercedes, que desde então mora em Edimburgo e, mais
recentemente, casou com um escocês. Foi uma tarde gelada, mas bem especial, pois
pude conhecer e entender um pouco mais sobre kilts e tartans – para
aqueles que não sabem, os kilts são
os tradicionais trajes escoceses que se assemelham a uma saia, e os tartans são as diferentes padronagens de
xadrez das vestimentas, cada uma representando um diferente clã escocês. É uma
visita rápida que eu super recomendo, e o melhor, a entrada é livre.
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Mantas e cachecóis nas mais variadas cores e padronagens de xadrez! |
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Um pouco das tradições e cultura escocesas! |
Pra quem acompanha a família real britânica, poderá observar que eles são bem adeptos dos kilts escoceses, inclusive há dois tartans oficiais da realeza, o Stewart e o Balmoral – enquanto o Stewart é universal e pode ser usado por todo aquele que quiser, o Balmoral pode ser usado apenas por membros da família real. E a boa notícia pra quem, como eu, curte a tradição e não é de linhagem escocesa, é que, além dos padrões universais, agora também podemos criar o nosso próprio tartan! Legal, né? E aí, qual padrão vai ser?
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O maquinário de tecelagem usado para confeccionar os tartans. |
Os escoceses, porém, já não vestem mais o kilt no seu dia-a-dia. Com exceção dos artistas de rua que vemos tocando a gaita de foles e posando para fotos com turistas em diferentes pontos da cidade, ou daquele turista que ama entrar no personagem, a vestimenta é reservada para os cultos de domingo ou alguma celebração especial, como casamentos, eventos sociais ou festividades locais, entre outros. O casamento dos meus amigos Mercedes e David, por exemplo, foi seguindo as tradições escocesas, e se eles me permitirem, talvez eu compartilhe algumas imagens dos trajes usados durante a cerimônia aqui com vocês. Enquanto isso, fiquem com os registros dos meus passeios!
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Traje feminino no Royal Stewart Tartan, o xadrez do clã Stewart, a família real britânica. |
E falando em registros, em
que parte do mundo, além da Escócia, vocês acham que é possível ver uma
belíssima igreja transformada em um centro de artes e eventos? Estamos falando
da Tolbooth Kirk [Igreja Tolbooth], uma igreja em estilo gótico, a 2
minutinhos do Castelo de Edimburgo, construída nos anos de 1842 e 1844, com uma
agulha octogonal de 74 metros, o que faz dela a construção mais alta da cidade.
Eu fiquei ali meio pasmada olhando aquela construção, foi difícil acreditar que
aquela maravilha arquitetônica não era mais um templo religioso. Mas aqui entre
nós, o que mais tem na capital escocesa são igrejas, são muitas, muitas, muitas!
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A antiga Tolbooth Kirk, que hoje abriga um centro de artes e eventos, o The Hub. |
Mas pra não desapontar os apaixonados por templos religiosas, a nossa próxima atração é a Catedral de St Giles [Catedral de São Egídio], dedicada a São Egídio, padroeiro de Edimburgo. Um dos
locais religiosos mais importantes da cidade há aproximadamente 900 anos! Segundo algumas pesquisas que fiz, a construção atual data do
final do século XIV, embora tenha sido amplamente restaurada no século XIX,
quando vitrais coloridos começaram a ser colocados, ilustrando histórias
bíblicas. E pra mim, um dos locais mais bonitos da catedral é a Thistle Chapel [Capela
do Cardo], a capela mais antiga, mais nobre e a principal da Ordem de Cavalaria
da Escócia. E se vocês, como eu, costumam passear durante o inverno, venham
preparados para o frio no interior do prédio – quase congelei durante uma missa
que assisti!
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A St. Giles Cathedral [a Catedral de São Egídio] |
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Os vitrais da Thistle Chapel [a Capela do Cardo] |
Ao passear pela Royal Mile, também
é interessante reparar nos monumentos e marcações ao longo do trajeto – podemos
ver desde estátuas de grandes nomes da Escócia, até marcações nas calçadas e
ruas. Uma das minhas marcações favoritas é o Heart of Midlothian, um mosaico em formato de coração
feito de granito colorido que fica ao lado da Catedral de St. Giles – ele marca a posição do antigo centro administrativo, bem
como, de uma prisão e de um dos vários locais de execução pública da cidade no
século XV. Alguns dizem que os moradores locais costumam cuspir no coração como
sinal de desdém pela antiga prisão que ali ficava, já outros falam que é para
dar sorte. Desdém ou sorte, acho que vale à pena conferir!
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The Heart of Midlothian Mosaic [o mosaico Coração de Midlothian] |
Saindo um pouco da via principal está outra das
minhas atrações favoritas, o Writers’
Museum [Museu dos Escritores] – um espaço dedicado à vida e obra dos três
escritores mais importantes da história da Escócia: Sir Walter Scott, Robert
Burns e Robert Louis Stevenson – alocado na Lady
Stair House, uma construção histórica de 1622. Fiquei encantada já na
entrada para o museu – no pátio que se chama Makars’ Court, havia várias placas e poemas escritos no chão de
pedra, uma homenagem muito bonita para os escritores – lembro que fiquei ali
por horas me deliciando com cada palavra, cada verso e cada rima... Além disso,
eu conhecia algumas das obras deles, fiquei emocionada com a oportunidade de
estar ali, foi uma experiência linda!
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O prédio histórico Lady Stair House, que abriga o Writers' Museum [Museu dos Escritores]. |
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A placa que indica a entrada para o museu. |
Outro espaço que amei
visitar foi o Museum of Childhood [Museu da Infância], um lugar excelente para conhecer a infância de diferentes
gerações – o acervo é formado por brinquedos que vem desde o século XVIII até
os dias de hoje – além de ser o primeiro museu do mundo dedicado à história da
infância. São 21 salas com mais de dois
mil itens em exposição, que vão contando a história da infância pelo mundo
afora. A coleção conta com ursinhos de pelúcia, bonecas, livros, jogos,
carrinhos, marionetes e muitos outros. É uma belíssima viagem ao passado!
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A fachada e porta de acesso ao Museum of Childhood [o Museu da Infância] |
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Acervo do museu. |
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Acervo do Museu. |
Também me diverti muito visitando Canongate – uma seção da milha real que
até o ano de 1856 foi um burgo independente. No cruzamento da Royal Mile com a Jeffrey Street [Rua Jeffrey] podemos ver alguns ladrilhos metálicos
que indicam onde ficava a porta da cidade, além do muro que separava Edimburgo
e Canongate. Em uma das esquinas está
o pub The World’s End, chamado assim
porque, para os moradores da época, esse ponto significava o fim do mundo e
quem saísse por aquela porta provavelmente nunca mais voltaria para Edimburgo. Quando
cai a noite, esse trecho fica bastante deserto, por isso o mais indicado é visitá-lo
durante o dia.
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Canongate Kirk [a Igreja de Canongate] |
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The World's End Pub [o Pub do Fim do Mundo] |
Tudo o que eu descrevi até aqui é apaixonante, mas o
que mais me fascina ao longo de toda a Royal
Mile, com certeza, são as dezenas de becos, vielas e entradinhas que os
escoceses chamam de courts [pátios], closes [becos] e alleyways [vielas, passagens] – dizem que estes becos e vielas se
assemelham a uma espinha de peixe, e que cada um tem uma ou várias histórias
pra contar – e se olharmos de perto, cada um deles tem um nome afixado,
normalmente associado a uma pessoa próspera ou a uma determinada profissão
relacionada àquela passagem específica. Vale muito à pena entrar em alguns deles para
sentir o espírito medieval da cidade, é, literalmente, viajar no tempo.
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Mary King's Close [o Beco de Maria King] |
Um dos becos mais famosos é o Mary King’s Close [Beco de Maria King], e mais recentemente, um
beco que ganhou notoriedade internacional foi o Bakehouse Close [Beco da Padaria] – os fãs de Outlander
que o digam – pois ali foram gravadas cenas da gráfica de Jamie, personagem principal da série, que naquela fase
escolheu ser chamado de Alexander Malcolm. Quando assisti os episódios eu tinha
a impressão de reconhecer aquele lugar, então decidi vasculhar minhas fotos
antigas, e para minha felicidade, encontrei uma daquele beco! Só não estou
nela, mas isso não importa, a lembrança daquele lugar está bem viva na minha
memória.
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The Bakehouse Close [o Beco da Padaria] |
Lembro que era domingo, Mercedes e eu nos encontramos pra almoçar e
depois saímos pra explorar alguns pontos da parte antiga da cidade. Já estava
anoitecendo quando passamos pelo beco, o que tornou a experiência ainda mais
emocionante e inesquecível. O Bakehouse
Close fica em Canongate e está
localizado próximo ao Museu de Edimburgo – onde estão o prato e a coleira do Bobby,
o cachorro mais famoso de toda a Escócia e objeto do meu próximo relato! Mas
voltando, o mais surpreendente é que, assim como em Outlander, o prédio também já abrigou um bordel na vida real, o Cock and Trumpet. Entrando no close, o bordel fica à esquerda.
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The Museum of Edinburgh [o Museu de Edinburgo] |
E a última parada do nosso passeio é para ver o Holyrood Palace [Palácio de Holyrood] e a Queen´s Gallery [Galeria da Rainha]. O palácio é a residência oficial
da monarquia britânica na Escócia desde o século XVI, e a Rainha Elizabeth II
costuma ficar ali entre o final de junho e o começo de julho. A visitação é
permitida quando a Rainha não está na cidade. O tour guiado passa por algumas salas e dependências, além de
apartamentos de estado, quartos históricos da Rainha Mary da Escócia, ruínas da
antiga abadia agostiniana, uma parte dos jardins do palácio e a galeria de
artes adjacente, a Queen’s Gallery.
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O Palácio de Holyrood, residência oficial da Rainha. |
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The Queen's Gallery [a Galeria da Rainha] |
E aí, pessoal, gostaram? Cansaram muito? E olha que os lugares que descrevi
são apenas uma pequena amostra de tudo que há pra ver na Royal Mile! Algumas outras atrações que, na minha opinião, valem
muito a pena visitar são: a Câmara Obscura [the
Camera Obscura]; a Experiência do Uísque Escocês [The Scotch
Whisky Experience];
o Beco de Mary King [Real Mary Kings Close]; o primeiro centro moderno
construído para fins de narrativa ao vivo do mundo [The Storytelling Centre]; o Museu de Edimburgo [the Museum
of Edinburgh]; o Museu de
História das Pessoas [the People’s Story Museum]; o Cemitério de Canongate [the Canongate
Kirkyard], e o museu
que pretende revelar os segredos da criação da terra e dos ecossistemas, o
Dynamic Earth [Our
Dynamic Earth].
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Thank you! [Obrigada!] |
Cada
palavra, cada frase e cada referência, bem como as imagens, foram escolhidas com
muito carinho pra tornar este relato o mais próximo possível daquilo que vi e vivenciei
– espero que tenham gostado!
Até
breve, pessoal!
Este relato está realnente rico em detalhes. Gostei muito. Parabéns!
ResponderExcluirCorrigindo:"...está realmente..."
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