Sempre gostei muito da estar na companhia de animais, desde os meus pets até a bicharada do campo. Acho que aprendemos muito com eles, e tenho dificuldades para entender como ainda há tantas pessoas neste planeta que maltratam ou não gostam dos nossos irmãozinhos animais. A minha vida, com certeza, não teria o mesmo colorido sem eles! E por isso, hoje eu quero apresentar pra vocês um dos personagens mais queridos de toda a Escócia, o Bobby, um cachorrinho da raça Skye Terrier, que viveu na capital escocesa durante o século XIX e cativou a todos que o conheceram, inspirou livros, filmes e recebeu uma estátua em sua homenagem!
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Greyfriars Bobby e seu focinho já branquinho de tanto os turistas passarem a mão, na crença de que traz boa sorte! |
Eu não conhecia a história do Bobby antes de pisar em solo escocês, e logo que eu soube dele dei um jeitinho de visitar os locais por onde ele circulou. A estátua deste cachorrinho
simpático, mas de carinha triste e focinho descorado, que fica a poucos
quarteirões do Castelo de Edimburgo, é vista por inúmeros turistas diariamente;
eles normalmente passam por ali, esfregam o focinho do bichinho – aparentemente
um ritual para trazer boa sorte – fazem uma foto e seguem. Mas são poucos os que realmente conhecem a história do nosso amiguinho peludo!
A rua onde está a estátua do Bobby e os vários estabelecimentos comerciais homônimos! |
Há muitas versões da história do
Bobby, algumas mais romantizadas, outras mais realistas, mas a ideia central se
mantem em todas: que Bobby, o pequeno
Skye Terrier que morou em Edimburgo, e seu tutor foram inseparáveis em vida, e que apos a morte deste, o cachorrinho teria
passado 14 anos guardando o seu túmulo até a própria morte, em 1872.
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Greyfriars' Kirk [a Igreja de Greyfriars - entendam por Greyfriars, a Ordem Franciscana que chegou à Inglaterra] |
O túmulo de John Gray, tutor de Bobby, no cemitério de Greyfriars, e a Igreja ao fundo. |
Segundo consta, John Gray, o
tutor do cachorrinho, morreu de tuberculose em 1858 e foi enterrado no
cemitério de Greyfriars Kirkyard. E
Bobby quando faleceu, foi enterrado a 70 metros do túmulo do seu tutor. Só não
foi enterrado junto a ele por questões religiosas. A história é linda e triste
ao mesmo tempo, me emociono sempre que lembro!
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O túmulo de Bobby, em frente à Igreja de Greyfriars. |
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A lápide e o túmulo de Bobby coberto de flores, brinquedos e gravetos depositados ali por turistas. |
Outra tradição dos turistas, e que chama a atenção de quem passa, são os gravetos, além de flores e brinquedos, colocados sobre o túmulo para homenagear o cachorrinho, como pode ser visto na imagem acima! Além disso, há também uma bela inscrição na lápide, que diz o seguinte:
“Greyfriars Bobby
Morreu em 14 de janeiro de 1872,
Idade: 16 anos
Que sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós."
E uma curiosidade extra é que, a estátua do cachorrinho originalmente não estava na posição em que se encontra hoje. Quando erguida, ela estava voltada para o cemitério. Diz-se que o dono do Pub Greyfriars Bobby virou a estátua para a posição atual, de forma que as fotos dela sempre tivessem como fundo o ‘pub’. Uma sábia estratégia de marketing para o estabelecimento!
A fonte e a estátua de bronze do cachorrinho Greyfriars Bobby, e ao fundo o pub homônimo. |
Se algum dia forem
a Edimburgo, não deixem de dar um oi para o cachorrinho mais famoso da cidade! E pra quem quiser saber mais sobre a história do Bobby, tem bastante material disponível na Internet, ou ainda, estando por perto, visitar o Museum of Edinburgh, onde estão a coleira e o prato originais dele, é uma boa opção!
Antes de me despedir, quero compartilhar uma das versões da estória de Bobby com vocês, que eu trouxe do livro Insight, de Daniel Carvalho de Luz. Espero que gostem e se emocionem tanto quanto eu! Ficarei aqui no aguardo dos comentários de vocês, até breve!
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Bobby no Museu de Edimburgo. |
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Em 1858, na cidade de Edimburgo,
Escócia, vivia um velho homem chamado Jock.
Durante toda vida tinha sido um fiel pastor de ovelhas, enfrentando bravamente
perigos e intempéries para defender o rebanho. Com quase setenta anos, ainda
conservava o coração e a habilidade de um pastor, mas não a saúde necessária.
Suas pernas já não podiam escalar
as pedras para resgatar uma ovelha ou para espantar um predador. E embora a
família para quem trabalhava gostasse muito dele, as finanças iam mal e não
podiam conservá-lo. Assim, mancando por fora e magoado por dentro, lá se foi
ele de trem, deixando sua terra natal rumo a um novo lar na capital escocesa.
Jock fazia um pouco de tudo e ganhou muitos amigos naquela cidade
de mercadores. Eles gostavam do velho Jock
pelo seu sorriso simpático, e por suas habilidades nos mais variados trabalhos.
Mas, apesar de tantos amigos, sua família se constituía apenas dele e de um
cachorrinho Skie Terrier que ele
adotou com o nome de Bobby.
Jock e Bobby eram
inseparáveis e estavam sempre juntos na rotina de passar pelas lojas em busca
de serviços. Todos os dias eles começavam pelo restaurante local, onde recebiam
o que comer em troca de serviços de Jock.
Depois continuavam de porta em porta até que finalmente, à noite, os dois
voltavam para um porão que lhes servia de morada.
Dizem que muitas pessoas
pressentem quando o tempo de morrer está próximo. Foi assim com Jock. Já havia passado quase um ano
desde que chegara à cidade. Agora era pleno verão e as colinas estavam em flor.
Um dia, ao amanhecer, ao invés de levantar, o velho Jock puxou sua cama até perto da janelinha do quarto. E lá ficou
olhando as montanhas distantes de sua amada Escócia.
‘Bobby’ – disse ele afagando o pelo escuro e denso do cachorro, com
a mão que agora só tinha a força do amor – ‘é tempo de eu ir para casa. Eles
não conseguirão me afastar de minha terra novamente. Sinto muito, camarada, mas
você vai ter de se cuidar sozinho daqui por diante’.
O enterro de Jock foi no dia seguinte, em um lugar pouco comum para pobres. Por
causa do lugar onde morreu e da necessidade de ser sepultado rapidamente, seus
restos mortais foram colocados num dos cemitérios mais nobres de Edimburgo, o
cemitério Greyfriars’. Entre os
grandes e mais nobres homens da Escócia, foi enterrado um homem comum e
simples. E é aqui que nossa história começa.
Na manhã seguinte, o pequeno Bobby apareceu no mesmo restaurante que
ele e Jock visitavam cada manhã. A
seguir ele fez a ronda das lojas, como ele e Jock haviam sempre feito. Isto aconteceu dia após dia. Mas à noite
o cachorrinho desaparecia e somente reaparecia no restaurante no dia seguinte.
Amigos do velho Jock se perguntavam onde o cachorro ia
dormir, até que o mistério foi resolvido. Cada noite, Bobby não ia à procura de
um lugar quente para dormir, nem mesmo de um abrigo para protegê-lo do frio e
da chuva constantes da Escócia. Ele ia até o cemitério Greyfriar e tomava posição ao lado de seu dono.
O vigia do cemitério tocava o
cachorro cada vez que o via. Afinal, existia uma ordem expressa, proibindo
cachorros de entrarem em cemitérios. O homem tentou consertar a cerca e até pôs
armadilhas para caçar o cachorro. Finalmente, com a ajuda do chefe de polícia,
o pequeno Bobby foi capturado e preso por não ter uma licença. E uma vez que
ninguém podia apresentar-se como legítimo dono daquele cachorro, parecia que Bobby seria morto.
Amigos do velho Jock e de Bobby que souberam do caso foram até a corte local a favor de
Bobby. Finalmente, chegou o dia quando o caso deles iria ser apresentado à alta
corte de Edinburgh. Seria quase um milagre salvar a vida de Bobby, sem mencionar o tornar possível,
para aquele cão fiel, poder ficar perto do túmulo de seu amigo. Mas foi
exatamente o que aconteceu, como um ato sem precedentes na história da Escócia.
Antes que o juiz pudesse dar a
sentença, uma horda de crianças entrou na sala de audiência. Moeda por moeda,
aquelas crianças conseguiram a quantia necessária para a licença de Bobby. O oficial da corte ficou tão
impressionado pela afeição das crianças pelo animal que concedeu a ele um
título especial, tornando-o propriedade da cidade, com uma coleira declarando
este fato.
Bobby pôde então correr livremente, brincando com as crianças
durante o dia. Mas cada noite, durante quatorze anos até que morreu em 1872. O
cãozinho foi encontrado morto em cima da sepultura de seu velho amigo, Jock. Aquele amigo leal manteve guarda
silenciosa no cemitério de Greyfriar,
bem ao lado de seu dono. Se algum dia você for para Edinburgh, poderá ver a
estátua de Bobby naquele cemitério
que ainda está lá, mais de 120 anos de sua morte.
Um ano após a morte de Bobby, a Baronesa Burdett Coutts mandou esculpir uma estátua e uma fonte para
comemorar a vida de um cão devoto e a história de uma amizade que superou a
morte. A estátua está a poucos passos do cemitério e atrás dela, há um pub que leva
o nome do cãozinho em sua honra.
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Dando 'oi' pro Bobby num passeio noturno pelas ruas da capital escocesa! |
Linda esta história. Também me emocionei.
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