sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Um Natal no País Onde os Homens Vestem Saia!

A celebração do Natal nem sempre fez parte das tradições escocesas. Por vários séculos o povo escocês foi proibido de qualquer manifestação religiosa, inclusive de celebrar o Natal. E como resultado, os festejos do nascimento de Cristo foram sutilmente combinados ao Hogmanay, o ano novo escocês. Porém, ao longo dos tempos tudo mudou, e hoje o Natal é uma das tradições mais alegres e vibrantes do ano, todos são contagiados pelo espírito natalino!

Um pouquinho do Edinburgh's Winter Wonderland!

Participar das festividades de Natal junto aos escoceses foi uma das experiências mais incríveis da minha vida, ressignifiquei muitas vivências, sentimentos e emoções desde então! Lembro que naquele ano havia um lindo presépio de madeira, em tamanho real, bem no centro da cidade e, também, um incrível parque de diversões chamado, Edinburgh`s Winter Wonderland [Terra das Maravilhas de Inverno de Edimburgo, em tradução livre], montado aos pés do rochedo do castelo de Edimburgo. 

Presépio em madeira na Princes Street, em Edimburgo.

Além das atrações comuns a todos os parques como, roda gigante, carrossel, entre outros, havia também uma feira de Natal, com casinhas muito semelhantes às da Vila do Papai Noel na cidade de Gramado, aqui no sul do Brasil. Era um colorido fascinante! Mas o mais incrível de tudo, na minha opinião, era a imensa pista de patinação no gelo que montavam ali para todos que quisessem se divertir – minha amiga Mercedes era frequentadora assídua daquele espaço.

Casinhas típicas da feira de Natal.

A pista de patinação no gelo.

Inevitavelmente, a rotina das pessoas também sofria algumas mudanças nas semanas que antecediam o Natal; eram inúmeras tarefas e atividades como, enviar cartões para amigos e conhecidos [um ritual fascinante, que me encantou por demais], participar ou assistir concertos de Natal promovidos pelas igrejas, teatros ou escolas locais, e sobretudo, decorar a árvore, providenciar os presentes, e fazer os preparativos para a ceia.

Decorando a árvore de Natal na casa da Mrs. Simmons.

Tive a oportunidade de assistir a dois concertos natalinos em igrejas diferentes e, também, a uma peça de teatro encenada por alunos de uma escola pública, o nome da peça era Scrooge, uma adaptação do famoso conto, a Christmas Carol, do escritor inglês Charles Dickens. Fiquei completamente apaixonada e encantada com a apresentação das crianças, elas cantaram, dançaram, interpretaram, tocaram diversos instrumentos musicais, e mostraram muito, mas muito talento!

Scrooge, peça de Natal encenada numa escola pública de Edimburgo. 

Na noite do dia 24 fui com minha host family assistir a um culto de Natal na igreja que eles costumavam frequentar, nada foi muito diferente do que temos aqui, com exceção da figura do Papai Noel, que não se faz presente nas igrejas escocesas. E a manhã do dia 25 foi reservada para abrir os presentes, que foram muuuitos! É tradição fazer sacos de presentes, papel ou pano, para cada pessoa da família, e ali depositar todos os presentes que chegam. 

Manhã do dia 25/12, momento de abrir os presentes!

Embora eu estivesse a poucas semanas morando em terras escocesas, também tive direito a um saco cheinho de presentes! Foi muito divertido pois, além dos presentes oficiais, havia ali as mais variadas coisas, como frutas, uma escova de dentes, lenços de papel, um pacote de café, e muitas outras que já nem lembro mais! E os presentes de verdade? Esses ficam bem lá no fundo! E o mais bacana é que tudo que você não gosta ou já tem é redistribuído para amigos ou doado para instituições.

Meus presentes de Natal!

Depois de toda essa diversão de abrir os presentes, vem o almoço de Natal, uma mesa farta de delícias, que reúne a família e amigos próximos. O prato principal normalmente é peru assado, acompanhado de batatas salteadas, legumes cozidos, além de bebidas. E para sobremesa, o tradicional bolo de frutas ao rum, conhecido como Christmas pudding, ou as famosas tortinhas recheadas com frutas secas, chamadas mince pies.  Gente, é muita coisa gostosa, e os escoceses são um povo tão acolhedor que você mal percebe que está longe de casa.

Mince pies, as famosas tortinhas recheadas.

E é claro que a diversão não acaba no almoço! Assim que todos terminam, são distribuídos crackers, canudos de papel colorido que explodem, – para fazê-los explodir é necessário puxar as duas extremidades ao mesmo tempo – mas é só barulho de papel estourando, não uma explosão real! Os crackers são recheados de surpresas como coroas de papel coloridas, mensagens, tarefas para brincadeiras, lembrancinhas, balas, entre outros. 

Christmas crackers, diversão pra família toda!

Se me perguntassem qual celebração eu prefiro, Brasil ou Escócia, confesso que não saberia dizer. Porém, o fato de a Escócia ter sido privada de celebrar o Natal por tanto tempo e só recentemente, por volta de 1960, ter adquirido novamente o direito às celebrações religiosas, aliado ao fato d’eu ter vivido com uma família escocesa cristã, me levam a pensar que as celebrações deles são mais vivas e entusiásticas do que as nossas. 

Enfim, independentemente da forma como escolhemos festejar o Natal, com uma bela árvore ou sem uma, com presentes ou sem eles, com uma linda ceia ou algo mais simples, o importante é não esquecermos o que de fato o Natal significa, que o Mestre Jesus seja o motivo maior da nossa celebração, e que o amor e a gratidão estejam presentes em todas as nossas ações. Merry Christmas! 🎄


domingo, 23 de agosto de 2020

Calton Hill, a Atenas do Norte!

Era domingo, os dias continuavam gelados – mas isso, de forma alguma era motivo pra não sair de casa – e Mercedes e eu havíamos combinado de almoçar juntas. Também nos fez companhia na ocasião, um casal de amigos dela. Mercedes ama comida espanhola, por isso, o lugar escolhido foi um bar e restaurante espanhol chamado La Tasca, onde servem deliciosas tapas andaluzas. Conversamos, comemos, bebemos, rimos, e nos divertimos muito na companhia uns dos outros.

Almoço com amigos!
Almoço com amigos - da esquerda para a direita, Craig, Carol, eu e Mercedes!

Depois do almoço minha amiga e eu nos despedimos de Carol e Craig e fomos explorar a cidade. Estávamos na New Town, a parte nova de Edimburgo, e não tínhamos um roteiro definido para aquela tarde, então seguimos caminhando sem rumo, e quando vimos estávamos subindo a rua em direção à Calton Hill – uma colina situada a leste da New Town, que abriga importantes monumentos escoceses e tem uma das mais belas vistas da cidade – carinhosamente chamada de ‘Atenas do Norte’, por todo o seu esplendor.

A colina Calton Hill e seus monumentos!

Logo que chegamos ao topo da colina, à direita pudemos ver o Nelson Monument [Monumento de Nelson], uma torre bem alta construída em homenagem ao Comandante Nelson, o líder das tropas britânicas contra os franceses, depois da sua vitória e morte na Batalha de Trafalgar. Este monumento é o mais alto dalí, e pra quem busca uma vista panorâmica do lugar, tem a possibilidade de subir até o topo. A entrada é paga, algo entre 1,00 ou 2,00 libras escocesas, e vale dizer que, são 170 degraus de subida numa escadinha bem estreita, em espiral.

No alto da colina Calton Hill, à esquerda o National Monument of Scotland e atrás de mim o Nelson Monument.

E à esquerda, outro monumento que chama a atenção por ali é o National Monument of Scotland [Monumento Nacional da Escócia]. Um memorial construído para homenagear os soldados e marinheiros escoceses mortos nas Guerras Napoleônicas, mas nunca finalizado por falta de fundos, e que por isso, na época era pejorativamente chamado de ‘a vergonha de Edimburgo’ ou ‘ a desgraça da Escócia, etc. Foi um projeto ambicioso, e embora tenha apenas 12 colunas, é possível perceber nele uma aura de grandiosidade ao estilo do Parthenon de Atenas.

O City Observatory, antes da restauração.

Lá no alto da colina também está o City Observatory [Observatório da Cidade], um antigo observatório astronômico que, recentemente, foi transformado em museu de arte. Na reforma, o topo do morro ganhou uma galeria e um restaurante. Embora fosse considerado um dos patrimônios da humanidade, o espaço estava desocupado há muito tempo e a reforma foi feita para que a cidade ganhasse um novo ponto turístico. Segundo a arquiteta responsável, os desenhos originais do patrimônio foram utilizados para manter a conservação do local.

O Dugald Stewart Monument e a cidade ao fundo!

E o último monumento de Calton Hill, mas não menos importante, é o Dugald Stewart Monument [Monumento de Dugald Stewart], construído para homenagear o filósofo escocês de mesmo nome.

Muito frio, muito vento e Arthur's Seat, ao fundo, emoldurando o cenário!

Depois de ver, explorar e fotografar cada um dos monumentos – e bater o queixo de tanto frio – finalmente chegamos à melhor parte do nosso passeio, andar pelas trilhas em volta do lugar e curtir a vista lá do alto! Calton Hill tem essas várias trilhas de passeio demarcadas que nos possibilitam dar a volta completa por toda a colina. Lá de cima é possível ver o Firth of Forth, o Holyhood Palace e o Arthur’s Seat, em todo o seu esplendor, bem como o centro da cidade e o Castelo de Edimburgo!

Minha amiga, a cidade e lá ao fundo o mar!

Bom pessoal, eu sei que eu sou suspeita pra falar, mas Edimburgo é ou não uma das cidades mais encantadoras do mundo? 

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Arthur’s Seat E As Trilhas Do Holyrood Park!

Uma das coisas que mais sinto saudades quando me lembro de Edimburgo, da Escócia ou do Reino Unido são os parques – lindos, bem cuidados, convidativos, de fácil acesso, imensos, seguros e com infinitas opções de lazer ou afins, desde um piquenique com a família ou amigos até uma caminhada ou trilha mais radical – e um dos que mais amo e sinto uma vontade danada de visitar novamente é o Holyrood Park, o parque da rainha, na capital escocesa.

Um pedacinho do Holyrood Park em primeiro plano, e o Castelo de Edimburgo lá ao fundo!
O Holyrood Park fica ao lado do palácio real e é propriedade da coroa britânica, são 260 hectares de extensão que em outra época não passavam de um amplo campo de caça para a realeza. Mas que, para felicidade da população, passou a ser público e fica aberto 24 horas por dia, todos os dias do ano – um lugar belíssimo, formado por colinas, lagos, trilhas, fontes naturais, ruínas e muito verde – e muito frequentado, não só por turistas, mas também pelos locais.

Um dos passeios mais belos que fiz pelo parque da rainha, e que quero compartilhar aqui com vocês hoje, foi em 2010, no meio do inverno europeu – eu estava em Broadstairs, uma cidade litorânea no sudeste da Inglaterra, fazendo um curso de formação para professores e não podia perder a oportunidade de estender um pouquinho a viagem para reencontrar meus amigos queridos – foi um inverno dos mais rigorosos que eu já havia experimentado. Estradas fechadas, trens parados, voos cancelados, nevascas, muita neve acumulada e um frio sem igual.

Este foi o cenário que deixamos para trás quando saímos de Broadstairs, na Inglaterra!
Todos na Inglaterra diziam pra eu desistir da ideia de ir para a Escócia, mas eu estava determinada, foi só o tempo melhorar um pouquinho e lá fui eu! Minha amiga Mara, parceira de viagem e aventuras e que me acompanhou durante aquelas semanas, foi comigo de trem até Londres e de lá seguimos de ônibus para Edimburgo – foram 11 horas e pouco mais de 500 km à bordo de um ônibus noturno, lotado de criaturas estranhas, atravessando regiões totalmente encobertas pela neve, e tão frias que mesmo com o aquecimento a todo vapor eu sentia meu corpo congelando.

Victoria Coach Station -- uma das estações rodoviárias mais populares de Londres.
Vocês devem estar querendo saber porque a doida aqui decidiu viajar de ônibus e não de trem ou avião, não é? A resposta é simples, o preço! Uma passagem de ônibus ida e volta na época custava em torno de £30.00 [30 libras, o equivalente a R$150,00 hoje], já a de trem, quatro ou cinco vezes o valor, e de última hora, como foi o nosso caso, mais ainda. E avião se tornava inviável pelo clima e também pela distância do aeroporto, teríamos muitas despesas extras. Além disso, eu já tinha feito aquele trajeto entre Londres e Edimburgo outras vezes, tanto de ônibus como de trem, inverno e verão, e sempre fora tranquilo. A diferença daquela viagem foi mesmo o frio intenso, especialmente nas regiões mais remotas.

Durante a viagem fizemos uma parada, não sei se em Birmingham ou Newcastle Upon Tyne, mas ficamos impressionadas demais com o banheiro do lugar -- algo inexplicável de tão limpo, bonito e perfumado -- tinha flores até sobre a lixeira, algo inimaginável aqui! Eu não podia deixar de compartilhar!
Lembro que num determinado momento da viagem eu fiquei tão irritada com o frio, que juntei toda a minha coragem, levantei do meu assento e fui até a cabine do motorista para pedir que ele aumentasse a temperatura dentro do ônibus... Querem saber o que ele disse? Que o aquecimento já estava no máximo e que, por conta do frio intenso do lado de fora, não havia nada que ele pudesse fazer! Pensem na minha frustração!

Mas a história não terminou ali, conversando com minha amiga depois da viagem, descobri que eu senti tanto frio em função do lugar onde estava sentada. O sistema de aquecimento daqueles ônibus é por radiadores, são vários espalhados pelo veículo – quem está perto desses radiadores fica quente demais e quem está longe passa frio! Não foi uma experiência das mais agradáveis, mas eu sobrevivi... E confesso que valeu muito a pena! 

Na capital escocesa com minha amiga Mara!
Quando chegamos na capital escocesa pela manhã o tempo havia mudado, a temperatura estava um pouco mais amena e havia parado de nevar.  Meus amigos estavam nos aguardando na rodoviária, nos levaram até o apartamento deles e lá fomos recepcionadas com um delicioso café da manhã! Foi tão acolhedor e reconfortante que logo esqueci a jornada congelante daquela noite!

Edimburgo vista do apartamento dos meus queridos, David e Mercedes!
Descansamos um pouco, conversamos, organizamos nossas coisas, e em seguida Mercedes nos convidou para uma ‘car boot sale’ [feira de itens usados, expostos em porta-malas de carros], num estacionamento no subsolo de um prédio da região central da cidade – coisa que os britânicos amam e só estando lá para entender e curtir – almoçamos e em seguida fomos ao parque da rainha – o Holyrood Park – para aproveitar ao máximo as pouquinhas horas de luz do sol ainda restantes!

Car Boot Sale [feira de itens usados]
Chegamos lá, estacionamos junto ao St. Margaret’s Loch [o lago de Santa Margarida], descemos do carro e que surpresa... o lago estava praticamente todo congelado, uma camada bem espessa de gelo encobria quase toda a superfície! Havia bastante gente por ali e os mais corajosos passeavam e brincavam sobre aquela água congelada, achei aquilo um pouco irresponsável, assustador até... Não consigo me imaginar pisando num lago congelado! Contornamos e seguimos uma trilha que nos levaria para o topo de uma das colinas do parque.

O lago congelado.
Cisne nadando no lago congelado!
Depois de vários dias de tempo ruim, a trilha não estava das mais convidativas... Barro, lama, gelo, pedras, mato, partes escorregadias, mais barro, mais lama... Mas, com alguma dificuldade, finalmente chegamos ao topo. E a vista lá do alto valeu cada minuto daquela subida difícil, era algo deslumbrante, de lá podíamos ver todo o lago, o prédio do Our Dynamic Earth e parte da cidade... Sabe aqueles momentos que você tem vontade de guardar num potinho? Foi bem assim!

O lago e as ruínas da capela ao fundo.
Passeamos pelas ruinas da St. Anthony’s Chapel [a Capela de Santo Antônio], subimos em pedras, fotografamos, dançamos, curtimos a vista e o contato com a natureza, exploramos o perímetro, nos encantamos e nos divertimos feito crianças! E estar ali na companhia de pessoas queridas fez aquele momento ainda mais especial! Ai quanta saudade... Mas, para minha tristeza, naquele dia não tivemos tempo para outras trilhas no parque, pois, antes mesmo de fazermos o trajeto de volta já tinha escurecido.

Ruínas da St. Anthony's Chapel
O St. Margareth's Loch  visto do alto da trilha da capela -- ampliando a imagem é possível ver algumas pessoas andando sobre o lago congelado.
Felicidade, a palavra que melhor descreve esta imagem!
Um dos lugares do parque que eu queria muito explorar, mas que ficará para uma próxima ocasião é o Arthur’s Seat, [traduzindo literalmente, O Assento de Arthur – o lendário rei Arthur da távola redonda]. Este antigo vulcão extinto é o ponto mais alto de Edimburgo – 251 metros de altura – e o pico mais importante do grupo de colinas que há no Holyrood Park. Embora muitos digam que a vista das outras colinas é melhor, subir até o topo desse monte é uma das atividades preferidas dos turistas mais ativos.

A colina Arthur's Seat.
E uma terceira trilha pra quem tiver tempo e disposição é a Salisbury Crags [uma série de 46 metros de falésias], um trecho que exige um pouco mais de cuidado e atenção. No ponto máximo desta trilha, antes de começar a descida, estão os melhores lugares para fotografar. De lá é possível ver toda a Old Town, a parte antiga da cidade, Calton Hill, uma colina bem no centro da cidade, e se o dia estiver ensolarado, também o estuário do rio Firth of Forth – aquele trecho em que o mar do Norte encontra as terras escocesas. E seguindo pela trilha, à medida que vamos descendo, podemos ver as colunas de basalto que compõe o cenário.

Salisbury Crag
E então, pessoal, como está a vontade de visitar Edimburgo? Estão gostando dos lugares que compartilhei com vocês até aqui? Eu sou completamente apaixonada por tudo que há na Escócia, se não fossem os vínculos que me prendem à minha terra natal, eu não hesitaria, faria minhas malas e não voltaria mais! Quem sabe algum dia... Enquanto isso, vou matando as saudades na medida em que compartilho minhas andanças com vocês!

Até a próxima!

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Bobby, o Cachorrinho Mais Famoso de Toda Escócia!

Sempre gostei muito da estar na companhia de animais, desde os meus pets até a bicharada do campo. Acho que aprendemos muito com eles, e tenho dificuldades para entender como ainda há tantas pessoas neste planeta que maltratam ou não gostam dos nossos irmãozinhos animais. A minha vida, com certeza, não teria o mesmo colorido sem eles! E por isso, hoje eu quero apresentar pra vocês um dos personagens mais queridos de toda a Escócia, o Bobby, um cachorrinho da raça Skye Terrier, que viveu na capital escocesa durante o século XIX e cativou a todos que o conheceram, inspirou livros, filmes e recebeu uma estátua em sua homenagem!

Greyfriars Bobby e seu focinho já branquinho de tanto os turistas passarem a mão, na crença de que traz boa sorte!
Eu não conhecia a história do Bobby antes de pisar em solo escocês, e logo que eu soube dele dei um jeitinho de visitar os locais por onde ele circulou. A estátua deste cachorrinho simpático, mas de carinha triste e focinho descorado, que fica a poucos quarteirões do Castelo de Edimburgo, é vista por inúmeros turistas diariamente; eles normalmente passam por ali, esfregam o focinho do bichinho – aparentemente um ritual para trazer boa sorte – fazem uma foto e seguem. Mas são poucos os que realmente conhecem a história do nosso amiguinho peludo!

A rua onde está a estátua do Bobby e os vários estabelecimentos comerciais homônimos!
Há muitas versões da história do Bobby, algumas mais romantizadas, outras mais realistas, mas a ideia central se mantem em todas: que Bobby, o pequeno Skye Terrier que morou em Edimburgo, e seu tutor foram inseparáveis em vida, e que apos a morte deste, o cachorrinho teria passado 14 anos guardando o seu túmulo até a própria morte, em 1872.

Greyfriars' Kirk [a Igreja de Greyfriars - entendam por Greyfriars, a Ordem Franciscana que chegou à Inglaterra]
O túmulo de John Gray, tutor de Bobby, no cemitério de Greyfriars, e a Igreja ao fundo.
Segundo consta, John Gray, o tutor do cachorrinho, morreu de tuberculose em 1858 e foi enterrado no cemitério de Greyfriars Kirkyard. E Bobby quando faleceu, foi enterrado a 70 metros do túmulo do seu tutor. Só não foi enterrado junto a ele por questões religiosas. A história é linda e triste ao mesmo tempo, me emociono sempre que lembro!

O túmulo de Bobby, em frente à Igreja de Greyfriars.
A lápide e o túmulo de Bobby coberto de flores, brinquedos e gravetos depositados ali por turistas.
Outra tradição dos turistas, e que chama a atenção de quem passa, são os gravetos, além de flores e brinquedos, colocados sobre o túmulo para homenagear o cachorrinho, como pode ser visto na imagem acima! Além disso, há também uma bela inscrição na lápide, que diz o seguinte:

“Greyfriars Bobby
Morreu em 14 de janeiro de 1872,
Idade: 16 anos
Que sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós."

E uma curiosidade extra é que, a estátua do cachorrinho originalmente não estava na posição em que se encontra hoje. Quando erguida, ela estava voltada para o cemitério. Diz-se que o dono do Pub Greyfriars Bobby virou a estátua para a posição atual, de forma que as fotos dela sempre tivessem como fundo o ‘pub’. Uma sábia estratégia de marketing para o estabelecimento!

A fonte e a estátua de bronze do cachorrinho Greyfriars Bobby, e ao fundo o pub homônimo.
Se algum dia forem a Edimburgo, não deixem de dar um oi para o cachorrinho mais famoso da cidade! E pra quem quiser saber mais sobre a história do Bobby, tem bastante material disponível na Internet, ou ainda, estando por perto, visitar o Museum of Edinburgh, onde estão a coleira e o prato originais dele, é uma boa opção!

Bobby no Museu de Edimburgo.
Antes de me despedir, quero compartilhar uma das versões da estória de Bobby com vocês, que eu trouxe do livro Insight, de Daniel Carvalho de Luz. Espero que gostem e se emocionem tanto quanto eu! Ficarei aqui no aguardo dos comentários de vocês, até breve!

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Em 1858, na cidade de Edimburgo, Escócia, vivia um velho homem chamado Jock. Durante toda vida tinha sido um fiel pastor de ovelhas, enfrentando bravamente perigos e intempéries para defender o rebanho. Com quase setenta anos, ainda conservava o coração e a habilidade de um pastor, mas não a saúde necessária.

Suas pernas já não podiam escalar as pedras para resgatar uma ovelha ou para espantar um predador. E embora a família para quem trabalhava gostasse muito dele, as finanças iam mal e não podiam conservá-lo. Assim, mancando por fora e magoado por dentro, lá se foi ele de trem, deixando sua terra natal rumo a um novo lar na capital escocesa.

Jock fazia um pouco de tudo e ganhou muitos amigos naquela cidade de mercadores. Eles gostavam do velho Jock pelo seu sorriso simpático, e por suas habilidades nos mais variados trabalhos. Mas, apesar de tantos amigos, sua família se constituía apenas dele e de um cachorrinho Skie Terrier que ele adotou com o nome de Bobby.

Jock e Bobby eram inseparáveis e estavam sempre juntos na rotina de passar pelas lojas em busca de serviços. Todos os dias eles começavam pelo restaurante local, onde recebiam o que comer em troca de serviços de Jock. Depois continuavam de porta em porta até que finalmente, à noite, os dois voltavam para um porão que lhes servia de morada.

Dizem que muitas pessoas pressentem quando o tempo de morrer está próximo. Foi assim com Jock. Já havia passado quase um ano desde que chegara à cidade. Agora era pleno verão e as colinas estavam em flor. Um dia, ao amanhecer, ao invés de levantar, o velho Jock puxou sua cama até perto da janelinha do quarto. E lá ficou olhando as montanhas distantes de sua amada Escócia.

Bobby’ – disse ele afagando o pelo escuro e denso do cachorro, com a mão que agora só tinha a força do amor – ‘é tempo de eu ir para casa. Eles não conseguirão me afastar de minha terra novamente. Sinto muito, camarada, mas você vai ter de se cuidar sozinho daqui por diante’.

O enterro de Jock foi no dia seguinte, em um lugar pouco comum para pobres. Por causa do lugar onde morreu e da necessidade de ser sepultado rapidamente, seus restos mortais foram colocados num dos cemitérios mais nobres de Edimburgo, o cemitério Greyfriars’. Entre os grandes e mais nobres homens da Escócia, foi enterrado um homem comum e simples. E é aqui que nossa história começa.

Na manhã seguinte, o pequeno Bobby apareceu no mesmo restaurante que ele e Jock visitavam cada manhã. A seguir ele fez a ronda das lojas, como ele e Jock haviam sempre feito. Isto aconteceu dia após dia. Mas à noite o cachorrinho desaparecia e somente reaparecia no restaurante no dia seguinte.

Amigos do velho Jock se perguntavam onde o cachorro ia dormir, até que o mistério foi resolvido. Cada noite, Bobby não ia à procura de um lugar quente para dormir, nem mesmo de um abrigo para protegê-lo do frio e da chuva constantes da Escócia. Ele ia até o cemitério Greyfriar e tomava posição ao lado de seu dono.

O vigia do cemitério tocava o cachorro cada vez que o via. Afinal, existia uma ordem expressa, proibindo cachorros de entrarem em cemitérios. O homem tentou consertar a cerca e até pôs armadilhas para caçar o cachorro. Finalmente, com a ajuda do chefe de polícia, o pequeno Bobby foi capturado e preso por não ter uma licença. E uma vez que ninguém podia apresentar-se como legítimo dono daquele cachorro, parecia que Bobby seria morto.

Amigos do velho Jock e de Bobby que souberam do caso foram até a corte local a favor de Bobby. Finalmente, chegou o dia quando o caso deles iria ser apresentado à alta corte de Edinburgh. Seria quase um milagre salvar a vida de Bobby, sem mencionar o tornar possível, para aquele cão fiel, poder ficar perto do túmulo de seu amigo. Mas foi exatamente o que aconteceu, como um ato sem precedentes na história da Escócia.

Antes que o juiz pudesse dar a sentença, uma horda de crianças entrou na sala de audiência. Moeda por moeda, aquelas crianças conseguiram a quantia necessária para a licença de Bobby. O oficial da corte ficou tão impressionado pela afeição das crianças pelo animal que concedeu a ele um título especial, tornando-o propriedade da cidade, com uma coleira declarando este fato.

Bobby pôde então correr livremente, brincando com as crianças durante o dia. Mas cada noite, durante quatorze anos até que morreu em 1872. O cãozinho foi encontrado morto em cima da sepultura de seu velho amigo, Jock. Aquele amigo leal manteve guarda silenciosa no cemitério de Greyfriar, bem ao lado de seu dono. Se algum dia você for para Edinburgh, poderá ver a estátua de Bobby naquele cemitério que ainda está lá, mais de 120 anos de sua morte.

Um ano após a morte de Bobby, a Baronesa Burdett Coutts mandou esculpir uma estátua e uma fonte para comemorar a vida de um cão devoto e a história de uma amizade que superou a morte. A estátua está a poucos passos do cemitério e atrás dela, há um pub que leva o nome do cãozinho em sua honra.

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Dando 'oi' pro Bobby num passeio noturno pelas ruas da capital escocesa!

domingo, 12 de julho de 2020

A Royal Mile, O Coração De Edimburgo!

Gente, vocês já sabem que este é um dos meus lugares favoritos de toda Edimburgo, né? Então, preparem-se porque o texto de hoje vai ser longo, são tantas histórias e lugares incríveis pra compartilhar que fica difícil poupar nas palavras! Pra começar, quero dizer que foram incontáveis as vezes que passeei pela Royal Mile [Milha Real, em português] durante o período em que morei na capital escocesa, e também depois, e confesso que lá no início eu não fazia a menor ideia da riqueza e do valor histórico e cultural daquele pedacinho de mundo. Fui descobrindo aos poucos explorando, perguntando, interagindo, lendo, pesquisando, observando, ouvindo, fotografando, registrando e absorvendo tudo que era possível – cada nova visita era sempre um universo de descobertas!

Placa de identificação do trecho inicial da Royal Mile, o Castlehill.
A Royal Mile é o coração de Edimburgo, o centro histórico da cidade, o trecho mais famoso da capital escocesa. Com 1.814 metros de comprimento – o que equivale a uma milha escocesa essa via conecta o Castelo de Edimburgo, a oeste, com o Palácio de Holyroodhouse, a leste. Lá estão localizadas as principais atrações da cidade. Também é ali que a verdadeira história acontece – nos becos, ruelas, pátios e casas dessa região antiga [a Old Town, como é conhecida em inglês] – uma região de aspecto medieval, mas cheia de vida, de movimentação, de coisas pra ver, ouvir, fazer e se apaixonar.

Royal Mile - Castlehill 
Nesta imagem, à esquerda, o prédio da Tartan Weaving Mill & Exhibition, à direita o prédio da Scotch Whisky Experience e lá no fundo, a Tolbooth Kirk.
O que nem todos sabem, é que a Royal Mile é na verdade composta de quatro ruas conectadas: Castlehill – a parte mais próxima ao castelo e a mais antiga de Edimburgo, uma vez que deu origem à cidade; Lawnmarket – um trecho repleto de lojas de souvenirs; High Street – a parte mais conhecida, pois é onde está a Catedral de St. Giles, além de pubs e restaurantes que são frequentados pelos locais; e Canongate – um burgo independente até meados de 1852, de onde segue um pequeno trecho que passa pela Praça do Parlamento e vai até o Palácio de Holyroodhouse.

O famoso Hop-On Hop-Off Bus [ônibus turístico que permite você subir e descer quantas vezes quiser, contanto que tenha um ticket ou bilhete de passagem].
Ao longo de todo o trajeto há uma infinidade de atrações que realmente valem uma visita, cada uma com características únicas e bem diferenciadas que atraem e encantam pelos mais diversos motivos. Além disso, há também muitas opções de tours a pé pelas ruas, com temáticas das mais variadas, desde histórias de fantasmas até passeios literários. Não tive a oportunidade ou o interesse em visitar ou participar de tudo, mas me diverti muito por ali... e professora e amante de literatura como sou, fica fácil adivinhar algumas das minhas escolhas, não é mesmo?! Prontos pra me acompanhar num passeio pelos meus lugares favoritos da Royal Mile?

Na minha próxima visita à capital escocesa eu juro que vou num desses tours fantasmagóricos!
Nosso passeio vai começar na saída do castelo, descendo a ladeira até chegarmos no palácio da rainha. E a primeira parada será na Tartan Weaving Mill & Exhibition, construída em um edifício histórico da cidade que antes abrigava o reservatório de água de Castle Hill, o reservatório principal da Royal Mile – e coladinha no Castelo de Edimburgo. Com 5 andares bem amplos, o lugar é uma mistura de fábrica, com museu, loja de souvenirs e loja de artesanato. Lá é possível vermos como é o processo de fabricação das famosas peças típicas escocesas e em seguida experimentar, fotografar ou comprar alguma um passeio imperdível para conhecer um pouco mais sobre as tradições e cultura escocesas.

O prédio que abriga a Tartan Weaving Mill & Exhibition
Quem me levou neste passeio foi a minha amiga peruana, Mercedes, que desde então mora em Edimburgo e, mais recentemente, casou com um escocês. Foi uma tarde gelada, mas bem especial, pois pude conhecer e entender um pouco mais sobre kilts e tartans – para aqueles que não sabem, os kilts são os tradicionais trajes escoceses que se assemelham a uma saia, e os tartans são as diferentes padronagens de xadrez das vestimentas, cada uma representando um diferente clã escocês. É uma visita rápida que eu super recomendo, e o melhor, a entrada é livre.

Mantas e cachecóis nas mais variadas cores e padronagens de xadrez!
Um pouco das tradições e cultura escocesas!
Pra quem acompanha a família real britânica, poderá observar que eles são bem adeptos dos kilts escoceses, inclusive há dois tartans oficiais da realeza, o Stewart e o Balmoral  enquanto o Stewart é universal e pode ser usado por todo aquele que quiser, o Balmoral pode ser usado apenas por membros da família real. E a boa notícia pra quem, como eu, curte a tradição e não é de linhagem escocesa, é que, além dos padrões universais, agora também podemos criar o nosso próprio tartan! Legal, né? E aí, qual padrão vai ser?

O maquinário de tecelagem usado para confeccionar os tartans.
Os escoceses, porém, já não vestem mais o kilt no seu dia-a-dia. Com exceção dos artistas de rua que vemos tocando a gaita de foles e posando para fotos com turistas em diferentes pontos da cidade, ou daquele turista que ama entrar no personagem, a vestimenta é reservada para os cultos de domingo ou alguma celebração especial, como casamentos, eventos sociais ou festividades locais, entre outros. O casamento dos meus amigos Mercedes e David, por exemplo, foi seguindo as tradições escocesas, e se eles me permitirem, talvez eu compartilhe algumas imagens dos trajes usados durante a cerimônia aqui com vocês. Enquanto isso, fiquem com os registros dos meus passeios!

Traje feminino no Royal Stewart Tartan, o xadrez do clã Stewart, a família real britânica.
E falando em registros, em que parte do mundo, além da Escócia, vocês acham que é possível ver uma belíssima igreja transformada em um centro de artes e eventos? Estamos falando da Tolbooth Kirk [Igreja Tolbooth], uma igreja em estilo gótico, a 2 minutinhos do Castelo de Edimburgo, construída nos anos de 1842 e 1844, com uma agulha octogonal de 74 metros, o que faz dela a construção mais alta da cidade. Eu fiquei ali meio pasmada olhando aquela construção, foi difícil acreditar que aquela maravilha arquitetônica não era mais um templo religioso. Mas aqui entre nós, o que mais tem na capital escocesa são igrejas, são muitas, muitas, muitas!

A antiga Tolbooth Kirk, que hoje abriga um centro de artes e eventos, o The Hub.
Mas pra não desapontar os apaixonados por templos religiosas, a nossa próxima atração é a Catedral de St Giles [Catedral de São Egídio], dedicada a São Egídio, padroeiro de Edimburgo. Um dos locais religiosos mais importantes da cidade há aproximadamente 900 anos! Segundo algumas pesquisas que fiz, a construção atual data do final do século XIV, embora tenha sido amplamente restaurada no século XIX, quando vitrais coloridos começaram a ser colocados, ilustrando histórias bíblicas. E pra mim, um dos locais mais bonitos da catedral é a Thistle Chapel [Capela do Cardo], a capela mais antiga, mais nobre e a principal da Ordem de Cavalaria da Escócia. E se vocês, como eu, costumam passear durante o inverno, venham preparados para o frio no interior do prédio – quase congelei durante uma missa que assisti!

St. Giles Cathedral [a Catedral de São Egídio]
Os vitrais da Thistle Chapel [a Capela do Cardo]
Ao passear pela Royal Mile, também é interessante reparar nos monumentos e marcações ao longo do trajeto – podemos ver desde estátuas de grandes nomes da Escócia, até marcações nas calçadas e ruas. Uma das minhas marcações favoritas é o Heart of Midlothian, um mosaico em formato de coração feito de granito colorido que fica ao lado da Catedral de St. Giles – ele marca a posição do antigo centro administrativo, bem como, de uma prisão e de um dos vários locais de execução pública da cidade no século XV. Alguns dizem que os moradores locais costumam cuspir no coração como sinal de desdém pela antiga prisão que ali ficava, já outros falam que é para dar sorte. Desdém ou sorte, acho que vale à pena conferir!
 
The Heart of Midlothian Mosaic [o mosaico Coração de Midlothian]
Saindo um pouco da via principal está outra das minhas atrações favoritas, o Writers’ Museum [Museu dos Escritores] – um espaço dedicado à vida e obra dos três escritores mais importantes da história da Escócia: Sir Walter Scott, Robert Burns e Robert Louis Stevenson – alocado na Lady Stair House, uma construção histórica de 1622. Fiquei encantada já na entrada para o museu – no pátio que se chama Makars’ Court, havia várias placas e poemas escritos no chão de pedra, uma homenagem muito bonita para os escritores – lembro que fiquei ali por horas me deliciando com cada palavra, cada verso e cada rima... Além disso, eu conhecia algumas das obras deles, fiquei emocionada com a oportunidade de estar ali, foi uma experiência linda!

O prédio histórico Lady Stair House, que abriga o Writers' Museum [Museu dos Escritores].
A placa que indica a entrada para o museu.
Outro espaço que amei visitar foi o Museum of Childhood [Museu da Infância], um lugar excelente para conhecer a infância de diferentes gerações – o acervo é formado por brinquedos que vem desde o século XVIII até os dias de hoje – além de ser o primeiro museu do mundo dedicado à história da infância. São 21 salas com mais de dois mil itens em exposição, que vão contando a história da infância pelo mundo afora. A coleção conta com ursinhos de pelúcia, bonecas, livros, jogos, carrinhos, marionetes e muitos outros. É uma belíssima viagem ao passado!

A fachada e porta de acesso ao Museum of Childhood [o Museu da Infância]
Acervo do museu.
Acervo do Museu.
Também me diverti muito visitando Canongate – uma seção da milha real que até o ano de 1856 foi um burgo independente. No cruzamento da Royal Mile com a Jeffrey Street [Rua Jeffrey] podemos ver alguns ladrilhos metálicos que indicam onde ficava a porta da cidade, além do muro que separava Edimburgo e Canongate. Em uma das esquinas está o pub The World’s End, chamado assim porque, para os moradores da época, esse ponto significava o fim do mundo e quem saísse por aquela porta provavelmente nunca mais voltaria para Edimburgo. Quando cai a noite, esse trecho fica bastante deserto, por isso o mais indicado é visitá-lo durante o dia.

Canongate Kirk [a Igreja de Canongate]
The World's End Pub [o Pub do Fim do Mundo]
Tudo o que eu descrevi até aqui é apaixonante, mas o que mais me fascina ao longo de toda a Royal Mile, com certeza, são as dezenas de becos, vielas e entradinhas que os escoceses chamam de courts [pátios], closes [becos] e alleyways [vielas, passagens] dizem que estes becos e vielas se assemelham a uma espinha de peixe, e que cada um tem uma ou várias histórias pra contar – e se olharmos de perto, cada um deles tem um nome afixado, normalmente associado a uma pessoa próspera ou a uma determinada profissão relacionada àquela passagem específica. Vale muito à pena entrar em alguns deles para sentir o espírito medieval da cidade, é, literalmente, viajar no tempo.
 
Mary King's Close [o Beco de Maria King]
Um dos becos mais famosos é o Mary King’s Close [Beco de Maria King], e mais recentemente, um beco que ganhou notoriedade internacional foi o Bakehouse Close [Beco da Padaria] – os fãs de Outlander que o digam – pois ali foram gravadas cenas da gráfica de Jamie, personagem principal da série, que naquela fase escolheu ser chamado de Alexander Malcolm. Quando assisti os episódios eu tinha a impressão de reconhecer aquele lugar, então decidi vasculhar minhas fotos antigas, e para minha felicidade, encontrei uma daquele beco! Só não estou nela, mas isso não importa, a lembrança daquele lugar está bem viva na minha memória.
 
The Bakehouse Close [o Beco da Padaria]
Lembro que era domingo, Mercedes e eu nos encontramos pra almoçar e depois saímos pra explorar alguns pontos da parte antiga da cidade. Já estava anoitecendo quando passamos pelo beco, o que tornou a experiência ainda mais emocionante e inesquecível. O Bakehouse Close fica em Canongate e está localizado próximo ao Museu de Edimburgo – onde estão o prato e a coleira do Bobby, o cachorro mais famoso de toda a Escócia e objeto do meu próximo relato! Mas voltando, o mais surpreendente é que, assim como em Outlander, o prédio também já abrigou um bordel na vida real, o Cock and Trumpet. Entrando no close, o bordel fica à esquerda.

The Museum of Edinburgh [o Museu de Edinburgo]
E a última parada do nosso passeio é para ver o Holyrood Palace [Palácio de Holyrood] e a Queen´s Gallery [Galeria da Rainha]. O palácio é a residência oficial da monarquia britânica na Escócia desde o século XVI, e a Rainha Elizabeth II costuma ficar ali entre o final de junho e o começo de julho. A visitação é permitida quando a Rainha não está na cidade. O tour guiado passa por algumas salas e dependências, além de apartamentos de estado, quartos históricos da Rainha Mary da Escócia, ruínas da antiga abadia agostiniana, uma parte dos jardins do palácio e a galeria de artes adjacente, a Queen’s Gallery.

O Palácio de Holyrood, residência oficial da Rainha.
The Queen's Gallery [a Galeria da Rainha]
E aí, pessoal, gostaram? Cansaram muito? E olha que os lugares que descrevi são apenas uma pequena amostra de tudo que há pra ver na Royal Mile! Algumas outras atrações que, na minha opinião, valem muito a pena visitar são: a Câmara Obscura [the Camera Obscura]; a Experiência do Uísque Escocês [The Scotch Whisky Experience]; o Beco de Mary King [Real Mary Kings Close]; o primeiro centro moderno construído para fins de narrativa ao vivo do mundo [The Storytelling Centre]; o Museu de Edimburgo [the Museum of Edinburgh]; o Museu de História das Pessoas [the People’s Story Museum]; o Cemitério de Canongate [the Canongate Kirkyard], e o museu que pretende revelar os segredos da criação da terra e dos ecossistemas, o Dynamic Earth [Our Dynamic Earth].

Thank you! [Obrigada!]
Cada palavra, cada frase e cada referência, bem como as imagens, foram escolhidas com muito carinho pra tornar este relato o mais próximo possível daquilo que vi e vivenciei – espero que tenham gostado!

Até breve, pessoal!