Aquela não era apenas uma viagem para o exterior, era a
aventura de uma vida, a realização de um sonho, uma experiência que
transformaria a minha existência para sempre, e as 24 horas entre a minha
partida e a chegada no meu destino, a Escócia, seriam as mais tensas e intensas
já vividas até então. Muitas incertezas me assombravam naquele momento, mas a
maior, sem dúvida, era a permissão para entrar no país. Alguns amigos da época não cansavam de me alertar pra essa possibilidade.
Talvez vocês não saibam, mas é bastante comum viajantes do
mundo inteiro, mesmo com vistos de permissão emitidos no país de origem, terem
a sua entrada em países estrangeiros negada. As políticas de imigração são bem
complexas, e nem sempre as razões que levam os oficiais a negarem um visto ficam
claras, acho que muitas vezes dependemos da sorte ou da boa vontade do cidadão por
quem somos entrevistados no guichê de imigração.
Depois de organizar tudo num tempo recorde de menos de 3
meses, finalmente o grande dia havia chegado! Era o comecinho de dezembro de
2004, e um casal de amigos muito queridos, gentilmente, havia se oferecido para me
levar de carro até o aeroporto da capital gaúcha e me acompanhar até o meu check-in. Era
um trajeto razoavelmente curto, não mais de duas horas, mas o cansaço
dos últimos dias, aliado a um remedinho contra enjoo que eu havia tomado, me impediram de curtir a companhia deles, acabei cochilando boa parte do caminho.
Já no aeroporto, despachei minhas malas, tomamos um café e
nos despedimos. Fui até o meu portão de embarque e aguardei pelo voo que me
levaria até São Paulo. Dali em diante eu estaria por conta própria! Era um
misto de nervosismo, ansiedade e curiosidade que só não era maior em decorrência
do sono que eu ainda sentia! E o que vocês não sabem, é que aquela também seria
a minha primeira experiência a bordo de um avião! Sim, primeira vez no céu e
primeira vez além-mar, um sentimento impossível de descrever com palavras!
Superada a ansiedade do primeiro voo, era chegada a hora da grand voyage! Agora em São Paulo, novo
check-in e mais algumas horas de espera para a conexão que me levaria para Amsterdam,
na Holanda. Já era quase noite, e enquanto eu aguardava, observava a movimentação
à minha volta, era impressionante a quantidade de pessoas, aeronaves, veículos,
além de bagagens e equipamentos, circulando naquele espaço. Algo inimaginável pra
quem nunca esteve lá, um ambiente caótico, e ao mesmo tempo, incrivelmente organizado.
Enfim, os portões de embarque abriram, e lá fui eu, ansiosa
pra mergulhar naquele universo totalmente novo e desconhecido, o meu primeiro voo
internacional e intercontinental, uma experiência única e que dificilmente será esquecida!
No instante em que entrei naquela aeronave, o mundo que eu conhecia ficou para trás, as pessoas eram
diferentes, os sotaques eram outros, e a língua oficial já não era mais a
língua portuguesa, mas o inglês, seguido do holandês, porque eu havia escolhido
uma companhia aérea holandesa.
Foi um voo longo, cansativo e nada confortável, pois a localização
do meu assento não me permitia recliná-lo. Os infortúnios da classe econômica! Junto a isso, o inconveniente de sentar ao
lado de uma senhora que, apesar de simpática, colocou na bolsa todos os itens
que a companhia área nos cedeu ao longo da viagem, desde a manta para nos
cobrirmos, até os talheres, que na época ainda eram de inox! Que vergonha! Mas o que não
faltou, foram oportunidades para praticar o meu inglês e comida, muita comida, quase
saí da aeronave rolando!
Se o aeroporto de São Paulo havia me impressionado, imaginem
o de Amsterdam, infinitamente mais organizado! Chegando lá, foi uma corrida
contra o tempo para não perder minha conexão com destino à Edimburgo,
capital da Escócia! Fazer mais um check-in, passar pela fiscalização holandesa, ser convidada a sair da
fila de passageiros para mostrar o conteúdo da minha bolsa [e pasmem, fiquei
tão feliz em poder falar inglês, que nem me importei com o episódio], encontrar o portão de embarque e, enfim, partir para as Ilhas
Britânicas!
Agora que a maratona de conexões chegava ao fim, a ansiedade
era quase incontrolável, e o medo de ter o meu sonho interrompido no guichê de
imigração, me sufocava! Entrei na aeronave, sentei e, em seguida, um
senhor escocês sentou ao meu lado. Começamos a conversar, contei sobre Edimburgo [com a pronúncia do nome errada, é óbvio], ele repetiu a palavra, educadamente, pra que eu percebesse a diferença, e seguimos conversando. Fiquei tão
tranquila e à vontade que, por um momento, esqueci toda a minha angústia!
Estávamos voando a pouco mais de hora quando o capitão avisou
que pousaríamos em seguida, passados alguns minutos, olhei pela janela e lá
estava ela, a capital escocesa. Quanta emoção! Desci do avião e fui em direção à imigração. Chegando
lá, não havia ninguém, além de mim, na fila de estrangeiros. Mostrei meu passaporte e
documentação, respondi algumas perguntas bem simples, e com um sorriso muito
acolhedor, a oficial de imigração, uma moça gordinha, de rosto muito redondo e
bochechas bem coradas, disse: ‘Welcome to Scotland and enjoy your stay!’
Eu não cabia em mim de felicidade, era surreal o que eu
senti naquele momento! Busquei minhas malas, fui até o setor de chegadas, e lá
estava a Mrs. Simmons, uma professora escocesa com quem eu havia trocado algumas mensagens por e-mail, segurando
uma plaquinha escrita à mão, com o meu nome! Nos apresentamos, fomos até o carro dela e
dali para a casa dela, endereço onde eu ficaria por algumas semanas, até
organizar aquela nova fase da minha vida!
 |
Esta imagem foi o meu primeiro registro da cidade de Edimburgo, em 10/12/04. |
Querem saber quais foram as minhas primeiras impressões e como foram os meus primeiros dias na Escócia? Eu conto pra vocês a partir do próximo relato, certo? Beijos e até breve!