domingo, 24 de maio de 2020

Vivendo Numa Terra Lendária!

Era comecinho do inverno no Hemisfério Norte e as temperaturas já estavam bem baixas, chovia com bastante frequência e quase não se via a luz do sol. Escurecia antes das 4:00 da tarde e amanhecia por volta das 10:00 da manhã. Os primeiros dias foram bem confusos pra mim, porque além dessa diferença climática havia também a diferença de fuso horário, e até ajustar o meu corpo às mudanças, dormir foi o que mais fiz. Acho que foi por aqueles dias que aprendi a expressão, “sleep like a log” [um equivalente em português seria, “dormir como uma pedra”].

Durante as primeiras semanas me permiti ser turista, sem preocupação com trabalho ou estudos. E a Mrs. Simmons procurava me incluir na programação diária dela, sempre que possível. Desde idas ao correio, até eventos de final de ano em escolas e igrejas locais. Ela era professora de inglês para estrangeiros e recebia estudantes das mais variadas partes do mundo com bastante frequência. Na época passaram por lá, além de mim, um grupo de chineses e também uma estudante espanhola, e a minha anfitriã incentivava muito que interagíssemos uns com os outros.

Da esquerda para a direita, Mrs. Simmons, Antonia, a estudante espanhola, a filha da Mrs. Simmons, cujo nome não lembro, eu, Sheila, melhor amiga da minha anfitriã e Jung Hong, estudante chinesa, num momento muito especial de confraternização.
E assim, não demorou muito para eu fazer amigos por lá! A primeira pessoa com quem me conectei foi Jung Hong, uma enfermeira e estudante de mestrado chinesa, logo depois conheci Mercedes, uma peruana que trabalhava como babá para uma família escocesa, e mais tarde, fiz amizade com Romero, um rapaz espanhol, estudante de doutorado numa universidade local. Cada um deles teve um papel importantíssimo na minha adaptação e no entendimento dos hábitos daquele lugar! Éramos todos estrangeiros aprendendo a viver longe da pátria mãe.

A rotina nas casas britânicas por onde passei era um pouco diferente da nossa, lá tomava-se o café da manhã, que não era muito diferente do que temos aqui, mas fazia-se apenas um lanchinho para o almoço, como legumes crus ou uma salada ou um sanduíche, e a refeição mais importante do dia era a janta, quando a família se reunia para cozinhar e conversar. Eu tinha liberdade para preparar as minhas refeições como eu quisesse, mas logo acabei entrando no ritmo deles.

Aprendi a tomar chá preto com leite, e fiquei viciadinha em “chocolate digestive biscuits”, um biscoito crocante com uma cobertura de chocolate, que só de lembrar dá água na boca. Aprendi a atravessar a rua sem ser atropelada, pois toda vez que eu achava que tinha identificado de onde vinham os carros, aparecia um de uma direção diferente das que eu havia previsto. Percebi que banho diário é coisa muito nossa, mas me apaixonei por banho de banheira e sinto uma saudade danada de ficar mergulhada na água quentinha até a pele enrugar toda!

Os famosos Chocolate Digestive Biscuits!
Conheci a neve, e aprendi que neve vira gelo e que não é nada divertido andar sobre o gelo! Percebi que o humor dos escoceses é completamente diferente de tudo que eu já havia vivenciado até então. Descobri, ou melhor, decidi que um dos momentos mais especiais do dia era depois da janta, quando a Mrs. Simmons me chamava para a sala de estar para assistirmos as séries britânicas de TV que ela mais gostava. Lembro de “Miss Marple”, “A Touch of Frost", “Midsomer Murders” e também de “The Inspector Lynley Mysteries”.

Descobri que para os escoceses televisão é “telly", banheiro é “loo”, e que a parte mais difícil da comunicação é dizer o nome dos lugares. Pensem na minha dificuldade pra entender ou dizer nomes do tipo, “Drumnadrochit” ou “Urquhart” ou então “Argyll”, e olha que esses são nível iniciante! E a cerveja, gente, vocês sabiam que é servida em temperatura ambiente? Sorte a minha não gostar de cerveja! Enfim, foram dias incríveis, de muitas descobertas, muitas aprendizagens, muitos passeios, mas, sobretudo, dias muitíssimo felizes! E muita calma nessa hora, porque ainda tem muita história pra contar!

2 comentários:

  1. Teus relatos prendem a atenção...parece que estou "escutando" e não "lendo".
    E vamos seguindo a viagem pela Escócia...

    ResponderExcluir