Era comecinho do inverno no Hemisfério Norte e as
temperaturas já estavam bem baixas, chovia com bastante frequência e quase não
se via a luz do sol. Escurecia antes das 4:00 da tarde e amanhecia por volta
das 10:00 da manhã. Os primeiros dias foram bem confusos pra mim, porque além
dessa diferença climática havia também a diferença de fuso horário, e até
ajustar o meu corpo às mudanças, dormir foi o que mais fiz. Acho que foi por
aqueles dias que aprendi a expressão, “sleep
like a log” [um equivalente em português seria, “dormir como uma pedra”].
Durante as primeiras semanas me permiti ser turista, sem
preocupação com trabalho ou estudos. E a Mrs.
Simmons procurava me incluir na programação diária dela, sempre que
possível. Desde idas ao correio, até eventos de final de ano em escolas e
igrejas locais. Ela era professora de inglês para estrangeiros e recebia
estudantes das mais variadas partes do mundo com bastante frequência. Na época passaram
por lá, além de mim, um grupo de chineses e também uma estudante espanhola, e a
minha anfitriã incentivava muito que interagíssemos uns com os outros.
E assim, não demorou muito para eu fazer amigos por lá! A primeira
pessoa com quem me conectei foi Jung Hong, uma enfermeira e estudante de
mestrado chinesa, logo depois conheci Mercedes, uma peruana que trabalhava como
babá para uma família escocesa, e mais tarde, fiz amizade com Romero, um rapaz
espanhol, estudante de doutorado numa universidade local. Cada um deles teve um
papel importantíssimo na minha adaptação e no entendimento dos hábitos daquele
lugar! Éramos todos estrangeiros aprendendo a viver longe da pátria mãe.
A rotina nas casas britânicas por onde passei era um pouco
diferente da nossa, lá tomava-se o café da manhã, que não era muito diferente
do que temos aqui, mas fazia-se apenas um lanchinho para o almoço, como legumes
crus ou uma salada ou um sanduíche, e a refeição mais importante do dia era a
janta, quando a família se reunia para cozinhar e conversar. Eu tinha liberdade
para preparar as minhas refeições como eu quisesse, mas logo acabei entrando no
ritmo deles.
Aprendi a tomar chá preto com leite, e fiquei viciadinha em “chocolate digestive biscuits”, um biscoito
crocante com uma cobertura de chocolate, que só de lembrar dá água na boca.
Aprendi a atravessar a rua sem ser atropelada, pois toda vez que eu achava que
tinha identificado de onde vinham os carros, aparecia um de uma direção diferente
das que eu havia previsto. Percebi que banho diário é coisa muito nossa, mas me
apaixonei por banho de banheira e sinto uma saudade danada de ficar mergulhada
na água quentinha até a pele enrugar toda!
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Os famosos Chocolate Digestive Biscuits! |
Conheci a neve, e aprendi que neve vira gelo e que não é
nada divertido andar sobre o gelo! Percebi que o humor dos escoceses é
completamente diferente de tudo que eu já havia vivenciado até então. Descobri, ou melhor, decidi
que um dos momentos mais especiais do dia era depois da janta, quando a Mrs. Simmons me chamava para a sala de
estar para assistirmos as séries britânicas de TV que ela mais gostava. Lembro
de “Miss Marple”, “A Touch of Frost", “Midsomer Murders” e
também de “The Inspector Lynley Mysteries”.
Descobri que para os escoceses televisão é “telly", banheiro é “loo”, e que a parte mais difícil da comunicação é dizer o nome dos
lugares. Pensem na minha dificuldade pra entender ou dizer nomes do tipo, “Drumnadrochit” ou “Urquhart” ou então “Argyll”,
e olha que esses são nível iniciante! E a cerveja, gente, vocês sabiam que é servida
em temperatura ambiente? Sorte a minha não gostar de cerveja! Enfim, foram dias
incríveis, de muitas descobertas, muitas aprendizagens, muitos passeios, mas,
sobretudo, dias muitíssimo felizes! E muita calma nessa hora, porque ainda tem muita história pra contar!
Teus relatos prendem a atenção...parece que estou "escutando" e não "lendo".
ResponderExcluirE vamos seguindo a viagem pela Escócia...
E vamos seguindo, ainda tem muita história pra contar! ;)
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