domingo, 24 de maio de 2020

Uma Gaúcha em Solo Escocês!

Para aqueles que não sabem, a Escócia fica ao norte da Inglaterra, mas as diferenças culturais, e até mesmo linguísticas, são bastante acentuadas entre os dois países, como eu pude comprovar nas minhas andanças por lá. E a capital escocesa, Edimburgo, é uma cidade relativamente pequena quando comparada à outras capitais mundiais, vivem lá em torno de meio milhão de habitantes, mas ainda assim, um dos lugares mais visitados do mundo. 

O Castelo de Edimburgo,
construído no final do século XII.

Também pudera, para uma cidade que abriga um dos mais famosos castelos do mundo, uma ponte ferroviária de beleza arquitetônica ímpar, uma das mais prestigiadas universidades de todos os tempos, fabulosos campos de golfe, além de ser palco para um dos maiores festivais da terra, atraindo uma infinidade de turistas das mais diversas regiões do planeta todos os anos, não poderia ser diferente. Além disso, a capital escocesa tem muita história pra contar.

Segundo uma amiga da época, passear por lá é como mergulhar num livro de história, cada prédio, cada rua, cada monumento, parque ou praça tem uma história que os escoceses amam compartilhar. E diante de tanta riqueza cultural e histórica, além da elegância e das belezas naturais que ainda vou descrever, não foi difícil me apaixonar por Edimburgo e pelas lendárias terras escocesas! Não fossem os laços que me prendem a minha terra natal, eu certamente moraria nessas terras longínquas uma vida inteira.

Já se passaram 15 anos desde o dia em que pisei em terras escocesas pela primeira vez, mas algumas lembranças ainda continuam bem vivas na memória, o cheiro adocicado da capital, a tonalidade escura da paisagem urbana, o trânsito avesso, o bom humor dos escoceses, o som da língua inglesa por toda parte, a rotina e os hábitos diferentes, as casas quentinhas, as pouquíssimas horas de luz do sol durante o inverno e o frio de congelar até os ossos, e, sobretudo, os passeios incríveis que fiz por lá!

Uma das principais ruas de Edimburgo, a Princes Street, vista do alto da colina de Calton Hill.

Como eu já relatei anteriormente, a minha anfitriã me aguardava no aeroporto. Foi um encontro tranquilo e sem formalidades, assim como foi o trajeto até a casa dela, não mais de 30 minutos, eu acho. Conversamos a maior parte do tempo, e o medo de não conseguir me comunicar se dissipou bem ali. A paisagem que eu via do carro não era das mais belas, mas isso não importava, eu estava vivendo um sonho! Chegamos à casa dela por volta das 4:00 da tarde, e já escurecia. Descarregamos a bagagem, ela me mostrou os principais cômodos, e então me conduziu até o quarto que seria meu.

Aquele, com certeza, era o quarto mais confortável que eu já havia tido em toda a minha vida. Não tinha nada de extraordinário ali, apenas uma cama de solteiro, uma escrivaninha, luminárias, espelhos, um móvel com uma pequena TV de tubo e um guarda-roupas. Mas era muito diferente de tudo que eu conhecia. Era pequeno, mas aconchegante, confortável e bem quentinho, apesar do frio que fazia lá fora. Enfim, era um quarto europeu inteirinho só pra mim!

A casa da Mrs. Simmons.

E as surpresas não pararam por ali! Sobre a escrivaninha, havia um cartão de boas-vindas que a querida Dorothy, a senhora responsável por organizar minha acomodação em Edimburgo, havia deixado pra mim. Até hoje me encantam essas gentilezas dos britânicos, cartões de boas-vindas, de agradecimentos, de festividades, de aniversário, de melhoras, entre tantos outros. É um universo totalmente diferente deste onde estamos inseridos, mas um que me encanta muito.

Outra diferença bem significativa está nas residências escocesas, quando comparadas às nossas. Os tipos de moradia são bem variados, desde apartamentos em condomínios simples até mansões e castelos. Na época em que morei na capital escocesa, os prédios de apartamentos não chamaram muito a minha atenção, acho que se mesclavam às demais construções sem mudar muito o perfil e a arquitetura da cidade. E uma tendência mais recente que surgia era a de transformar prédios antigos como armazéns, escolas e até igrejas, em apartamentos.

A maioria das casas que eu vi eram geminadas [terraced houses ou row houses, em inglês], em fileiras de 3 até 30 casas, possibilitando a construção de mais residências num terreno menor. Ou então geminadas em somente um dos lados [semi-detached houses], como era a da minha anfitriã. Além desses estilos, havia também as casas independentes [detached houses] e os sobrados [two-story houses]. E no interior do país era comum ver os famosos chalés ou casas de campo com telhado de palha [thatched roof houses].

As fileiras de casas geminadas, conhecidas como terraced houses ou row houses.

Mas independente do estilo das casas, o que havia em praticamente todas elas era: alarme contra incêndio, se você fazia um bife o negócio já disparava; aquecedores nas paredes de todos os cômodos; carpete pela casa toda, inclusive nos banheiros; banheira ao invés de box com chuveiro; e interruptor pra ligar e desligar as tomadas. E somando a isso, naquela época não havia muita preocupação com a segurança, era comum as pessoas deixarem as portas das casas destrancadas e os carros na rua, algo inimaginável aqui no nosso Brasil.

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