Uma das coisas que mais sinto
saudades quando me lembro de Edimburgo, da Escócia ou do Reino Unido são os
parques – lindos, bem cuidados, convidativos, de fácil acesso, imensos, seguros
e com infinitas opções de lazer ou afins, desde um piquenique com a família ou
amigos até uma caminhada ou trilha mais radical – e um dos que mais amo e sinto
uma vontade danada de visitar novamente é o
Holyrood
Park, o parque da rainha, na capital escocesa.
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Um pedacinho do Holyrood Park em primeiro plano, e o Castelo de Edimburgo lá ao fundo! |
O
Holyrood Park fica ao lado do palácio real e é propriedade da coroa
britânica, são 260 hectares de extensão que em outra época não passavam de um
amplo campo de caça para a realeza. Mas que, para felicidade da população,
passou a ser público e fica aberto 24 horas por dia, todos os dias do ano – um
lugar belíssimo, formado por colinas, lagos, trilhas, fontes naturais, ruínas e
muito verde – e muito frequentado, não só por turistas, mas também pelos
locais.
Um dos passeios mais belos
que fiz pelo parque da rainha, e que quero compartilhar aqui com vocês hoje, foi em
2010, no meio do inverno europeu – eu estava em Broadstairs, uma cidade litorânea no sudeste da Inglaterra, fazendo um
curso de formação para professores e não podia perder a oportunidade de estender
um pouquinho a viagem para reencontrar meus amigos queridos – foi um inverno
dos mais rigorosos que eu já havia experimentado. Estradas fechadas, trens
parados, voos cancelados, nevascas, muita neve acumulada e um frio sem igual.
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Este foi o cenário que deixamos para trás quando saímos de Broadstairs, na Inglaterra! |
Todos na Inglaterra diziam pra eu
desistir da ideia de ir para a Escócia, mas eu estava determinada, foi só o
tempo melhorar um pouquinho e lá fui eu! Minha amiga Mara, parceira de viagem e
aventuras e que me acompanhou durante aquelas semanas, foi comigo de trem até
Londres e de lá seguimos de ônibus para Edimburgo – foram 11 horas e pouco mais
de 500 km à bordo de um ônibus noturno, lotado de criaturas estranhas, atravessando
regiões totalmente encobertas pela neve, e tão frias que mesmo com o
aquecimento a todo vapor eu sentia meu corpo congelando.
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Victoria Coach Station -- uma das estações rodoviárias mais populares de Londres. |
Vocês devem estar querendo saber porque a doida aqui decidiu viajar de ônibus e não de trem ou avião, não é? A resposta é simples, o preço! Uma passagem de ônibus ida e volta na época custava em torno de £30.00 [30 libras, o equivalente a R$150,00 hoje], já a de trem, quatro ou cinco vezes o valor, e de última hora, como foi o nosso caso, mais ainda. E avião se tornava inviável pelo clima e também pela distância do aeroporto, teríamos muitas despesas extras. Além disso, eu já tinha feito aquele trajeto entre Londres e Edimburgo outras vezes, tanto de ônibus como de trem, inverno e verão, e sempre fora tranquilo. A diferença daquela viagem foi mesmo o frio intenso, especialmente nas regiões mais remotas.
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Durante a viagem fizemos uma parada, não sei se em Birmingham ou Newcastle Upon Tyne, mas ficamos impressionadas demais com o banheiro do lugar -- algo inexplicável de tão limpo, bonito e perfumado -- tinha flores até sobre a lixeira, algo inimaginável aqui! Eu não podia deixar de compartilhar! |
Lembro que num determinado
momento da viagem eu fiquei tão irritada com o frio, que juntei toda a minha
coragem, levantei do meu assento e fui até a cabine do motorista para pedir que
ele aumentasse a temperatura dentro do ônibus... Querem saber o que ele disse?
Que o aquecimento já estava no máximo e que, por conta do frio intenso do lado
de fora, não havia nada que ele pudesse fazer! Pensem na minha frustração!
Mas a história não terminou ali, conversando com minha amiga depois da viagem, descobri que eu senti tanto frio em função do lugar onde estava sentada. O sistema de aquecimento daqueles ônibus é por radiadores, são vários espalhados pelo veículo – quem está perto desses radiadores fica quente demais e quem está longe passa frio! Não foi uma experiência das mais agradáveis, mas eu sobrevivi... E confesso que valeu muito a pena!
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Na capital escocesa com minha amiga Mara! |
Quando chegamos na capital
escocesa pela manhã o tempo havia mudado, a temperatura estava um pouco mais
amena e havia parado de nevar.
Meus
amigos estavam nos aguardando na rodoviária, nos levaram até o apartamento
deles e lá fomos recepcionadas com um delicioso café da manhã! Foi tão
acolhedor e reconfortante que logo esqueci a jornada congelante daquela noite!
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Edimburgo vista do apartamento dos meus queridos, David e Mercedes! |
Descansamos um pouco,
conversamos, organizamos nossas coisas, e em seguida Mercedes nos convidou para
uma ‘
car boot sale’ [feira de itens
usados, expostos em porta-malas de carros], num estacionamento no subsolo de um
prédio da região central da cidade – coisa que os britânicos amam e só estando
lá para entender e curtir – almoçamos e em seguida fomos ao parque da rainha –
o
Holyrood Park – para aproveitar ao
máximo as pouquinhas horas de luz do sol ainda restantes!
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Car Boot Sale [feira de itens usados] |
Chegamos lá, estacionamos junto ao
St. Margaret’s Loch [o lago de Santa Margarida],
descemos do carro e que surpresa... o lago estava praticamente todo congelado, uma
camada bem espessa de gelo encobria quase toda a superfície! Havia bastante
gente por ali e os mais corajosos passeavam e brincavam sobre aquela água
congelada, achei aquilo um pouco irresponsável, assustador até... Não consigo
me imaginar pisando num lago congelado! Contornamos e seguimos
uma trilha que nos levaria para o topo de uma das colinas do parque.
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O lago congelado. |
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Cisne nadando no lago congelado! |
Depois de vários dias de tempo
ruim, a trilha não estava das mais convidativas... Barro, lama, gelo, pedras,
mato, partes escorregadias, mais barro, mais lama... Mas, com alguma
dificuldade, finalmente chegamos ao topo. E a vista lá do alto valeu cada
minuto daquela subida difícil, era algo deslumbrante, de lá podíamos ver todo o
lago, o prédio do
Our Dynamic Earth e
parte da cidade... Sabe aqueles momentos que você tem vontade de guardar num
potinho? Foi bem assim!
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O lago e as ruínas da capela ao fundo. |
Passeamos pelas ruinas da
St. Anthony’s Chapel [a Capela de Santo Antônio],
subimos em pedras, fotografamos, dançamos, curtimos a vista e o contato com a
natureza, exploramos o perímetro, nos encantamos e nos divertimos feito
crianças! E estar ali na companhia de pessoas queridas fez aquele momento ainda
mais especial! Ai quanta saudade... Mas, para minha tristeza, naquele dia não
tivemos tempo para outras trilhas no parque, pois, antes mesmo de fazermos o
trajeto de volta já tinha escurecido.
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Ruínas da St. Anthony's Chapel |
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O St. Margareth's Loch visto do alto da trilha da capela -- ampliando a imagem é possível ver algumas pessoas andando sobre o lago congelado. |
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Felicidade, a palavra que melhor descreve esta imagem! |
Um dos lugares do parque que eu queria
muito explorar, mas que ficará para uma próxima ocasião é o
Arthur’s Seat, [traduzindo literalmente,
O Assento de Arthur – o lendário rei Arthur da távola redonda]. Este antigo
vulcão extinto é o ponto mais alto de Edimburgo – 251 metros de altura – e o pico
mais importante do grupo de colinas que há no
Holyrood Park. Embora muitos digam que a vista das outras colinas é
melhor, subir até o topo desse monte é uma das atividades preferidas dos
turistas mais ativos.
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A colina Arthur's Seat. |
E uma terceira trilha pra quem
tiver tempo e disposição é a
Salisbury
Crags [uma série de 46 metros de falésias], um trecho que exige um pouco
mais de cuidado e atenção. No ponto máximo desta trilha, antes de começar a
descida, estão os melhores lugares para fotografar. De lá é possível ver toda a
Old Town, a parte antiga da cidade,
Calton Hill, uma colina bem no centro da
cidade, e se o dia estiver ensolarado, também o estuário do rio
Firth of Forth – aquele trecho em que o
mar do Norte encontra as terras escocesas. E seguindo pela trilha, à medida que
vamos descendo, podemos ver as colunas de basalto que compõe o cenário.
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Salisbury Crag |
E então, pessoal, como está a vontade de
visitar Edimburgo? Estão gostando dos lugares que compartilhei com vocês até aqui? Eu sou completamente apaixonada por tudo que há na Escócia,
se não fossem os vínculos que me prendem à minha terra natal, eu não hesitaria,
faria minhas malas e não voltaria mais! Quem sabe algum dia... Enquanto isso,
vou matando as saudades na medida em que compartilho minhas andanças com vocês!
Até a próxima!
Meu Deus! Quanto frio! Mas certamente valeu esta incrível "aventura".
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